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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Evola sobre o Zen e a vida quotidiana






Julius Evola (tradução minha)

Eugen Harrigel,  Zen e a Arte do Tiro com Arco(Assírio&Alvim, Lisboa, 1997)
 [Zen nell’arte del tirar d’arco (Turin: Rigois, 1956)]

Kakuzo Okakura, O Livro do chá, Biblioteca Editores Independentes/Cotovia
 [II Libro del Te (Rome: Fratelli Bocca, 1955)]


 '' O primeiro destes pequenos livros, traduzido do Alemão para Italiano, é único no seu género, como uma introdução directa e universalmente acessível ao espírito das disciplinas fundamentais e ao comportamento da civilização do Extremo-Oriente, especialmente do Japão. Herrigel é um Professor Alemão que foi convidado a leccionar Filosofia numa Universidade Japonesa, e decidiu estudar o espírito tradicional do país nas suas mais típicas formas vivas. Teve um especial interesse em compreender o Budismo Zen e, mesmo que possa parecer estranho, disseram-lhe que o melhor modo de o fazer seria estudar a prática tradicional do Tiro com Arco. Portanto, estudou incansavelmente essa arte durante cinco anos, e o livro descreve como o seu progresso nesse lugar e a sua penetração gradual na essência do Zen avançaram lado a lado com o Tiro ao Arco, condicionando-se um ao outro reciprocamente, levando a uma mais profunda transformação do próprio autor.
  A essência do Zen como uma concepção do mundo é, como é sabido, a sua especial interpretação do estado do nirvana, o qual, parcialmente através da influência do Taoísmo, é entendido no Japão não como um estado de beatitude ascética evanescente, mas como algo interior, uma libertação interna, uma estado livre das febres, das provações, das amarras do ego, um estado que pode ser preservado enquanto se esteja comprometido com todas as actividades e em todas as formas da própria vida quotidiana. Graças a isso, a vida como um todo adquire uma dimensão diferente; é compreendida e vivida de um  modo diferente. A ''a ausência do ego'' em que, em conformidade do espírito do Budismo, o Zen insiste vincadamente, não é no entanto aparentada com a apatia ou a atonia; dá origem a uma mais elevada forma de acção espontânea, de firmeza, de liberdade e serenidade na acção. Isto pode ser comparado a um homem que se agarra a alguma coisa convulsivamente e quando a larga, adquire uma serenidade superior, um elevado sentido de liberdade e firmeza.
  Depois de chamar a atenção para todos estes pontos, o autor nota a existência no Extremo-Oriente de artes tradicionais que surgem igualmente desta liberdade do Zen e oferecem os meios para as alcançar, através da instrução requerida para a sua prática. Por estranho que possa parecer, o espírito Zen reside nas Artes Extremo-Orientais ensinadas pelos mestres da pintura, da cerimónia do chá, do arranjo floral, tiro com arco, luta, esgrima e por aí em diante. Todas estas artes têm um aspecto ritual. Existem, além disso, aspectos inefáveis graças aos quais a verdadeira mestria em qualquer destas artes não pode ser atingida a menos que tenhamos adquirido esclarecimento interior e transformação da consciência-própria comum, o que torna a mestria numa espécie de sacramento palpável.
  Assim, Herrigel diz-nos como no aprender a esticar o arco, a pouco e pouco, por meios dos problemas envolvidos nesta arte, tal como ainda é ensinada no Japão, ele chegou ao conhecimento e à compreensão interior que buscava. Compreendeu que o tiro com arco não era um desporto mas antes uma espécie de acção ritual e uma iniciação. Para adquirir um conhecimento completo dele, teve de chegar à eliminação do próprio ego, ultrapassar toda a tensão, e alcançar uma espontaneidade superior. Só então o relaxamento muscular paradoxalmente se uniu à força máxima; o arqueiro, o arco e o alvo tornaram-se um todo. A flecha voou como por si própria e encontrou o alvo quase sem apontar. Posta nestes termos, a mestria alcaçada é um grau de espiritualidade ou ''Zen'', não como uma teoria e filosofia mas como uma verdadeira experiência, como um mais profundo modo de ser.
  Ao descrever situações deste tipo, baseado na experiência pessoal, o pequeno livro de Herrigel é importante não apenas porque introduz o leitor no espírito de uma civilização exótica mas também porque nos permite ver sob uma nova luz algumas das nossas próprias antigas tradições. Sabemos que na antiguidade, em certa medida, também na Idade Média, tradições ciosamente conservadas, elementos da religião, ritos, e mesmo mistérios eram associados com várias artes. Existiam ''bens'' para cada uma destas artes e ritos de admissão para as praticar. A iniciação aos ofícios e profissões em certas guildas e collegia ocorrriam paralelamente à iniciação espiritual. Assim, para mencionar um caso tardio, o simbolismo próprio da arte maçónica dos construtores medievais serviu de base para a primeira Franco-Maçonaria, que retirou daí as alegorias e procedimentos da ''Grande Obra''. Pode, portanto, ser isso nisto tudo que o Ocidente outrora sabia algo do que havia sido preservado até hoje no Extremo-Oriente em ensinamentos tais como ''o caminho do arco'' ou a '' arte da espada '' mantidos para serem idênticos com ''o caminho do Zen''numa positivamente singular forma de Budismo.
   O Autor do segundo pequeno livro, e viramo-nos agora para a edição Italiana do mesmo, é um Japonês interessado, acima de tudo, em problemas estéticos que estudou as  modernas escolas de arte na Europa e América mas manteve-se fiel às suas próprias tradições e comprometeu-se com uma acção eficiente e resoluta no seu próprio país contra a introdução de tendências Europeizantes. O seu  O Livro do chá confirma na parte central devotada mais estreitamente ao assunto em consideração o que temos estado a dizer.
  Houve ligações estreitas no Extremo-Oriente entre o Zen, as ''escolas de chá'' e o ''culto do chá''. Na verdade, diz-se que a cerminónia do chá, tal como era elaborada no Japão no século XVI, derivava do muito mais antigo ritual zen de beber chá de uma única chávena perante a estátua de Bodhidharma. De um modo geral, este rito cerimonial, é uma das muitas formas nas quais o príncípio Taoísta da plenitude no mínimo é expressa.
  Lu-Wu no seu livro Cha-Ching  havia já afirmado que ao preparar o chá, a mesma ordem e a mesma harmonia havia ele observado que do ponto de vista Taoísta reina em todas as coisas.
  O autor acrescenta que é parte da religião da arte da vida. ''O chá tornou-se um pretexto para o desfrutar de momentos de meditação e desapego feliz, no qual o anfitrião e os seus convidados tomam parte.'' Tanto o sítio como a estrutura das salas, construídos para este propósito especial,- as salas de chá(sukiya)- seguem o princípio ritualístico; são simbólicos. O variegado e parcialmente irregular caminho que, dentro do quadro da arte Extremo-Oriental da jardinagem leva à sala de chá é emblemática daquele estado preliminar de meditação que leva ao quebrar dos laços com o mundo exterior, ao desapego das preocupações e interesses da vida comum.
  O estilo da sala em si é de uma simplicidade refinada. Apesar da aparência despida e indigente que possa ter aos olhos de um Ocidental, segue ao detalhe uma intenção concreta. A selecção e uso dos materiais certos apelam a um cuidado infinito e atenção ao pormenor, tanto assim é que o custo de uma sala de chá perfeita pode ser superior ao de uma portada. O termo '' sukiya ''- diz o autor- originalmente significava ''a casa de imaginação'', a alusão não era de devaneios e fantasias mas referia-se à faculdade de nos desligarmos do mundo empírico, de nos recordarmos de nós próprios e tomar refúgio num mundo ideal.
  Outras expressões usadas pelos Mestres do rito do Chá são ''casa do vazio'' e ''a casa da assimetria''. A primeira destas expressões remonta directamente à noção de Vazio própria da metafísica Taoísta ( e aqui podemos recordar a parte que desempenha esta noção, quase como uma chave ou segundo plano no elemento ''aéreo'' da pintura do Extremo-Oriente). A expressão ''casa de assimetria'' refere-se ao facto de que algum pormenor é sempre, intencionalmente, deixado por terminar e o cuidado que é tido para organizar as coisas de modo a dar impressão de uma lacuna.  A razão para isto é que o sentido de plenitude e harmonia não deve surgir de algo já fixo e repetível, mas deve ser sugerido por uma incompletude exterior que impele alguém a concebê-los internamente por meio de um acto mental.
  O autor trata também das ligações existentes entre a arte do chá e aquela do seleccionar e arranjar as flores na sukiya, de novo em conformidade com o simbolismo e uma sensibilidade especial. Muitas vezes uma única flor correctamente seleccionada e colocada é o único ornamento da ''casa do vazio''.
  Por último, o autor lembra-nos que uma filosofia especial da vida quotidiana é acessória em relação ao rito do chá, tanto que na actual terminologia Japonesa, sobre um homem com falta de sensilibilidade para com os aspectos trágico-cómicos da vida pessoal diz-se que tem ''falta de chá'', enquanto que sobre aqueles que cedem a impulsos e sentimentos incontrolados diz-se que ''têm demasiado chá''. Isto traz-nos de volta àquele ideal de superioridade equilibrada, subtil e calma, que tem um papel tão grande na atitude geral do homem do Extremo-Oriente.
  Se pensarmos no amplo uso do chá no Ocidente, e das circunstâncias deste uso na nossa vida social, mais especiamente entre os círculos da moda, seria natural estabelecer comparações que mostrariam que, mesmo neste campo de lugares-comuns, como no plano das ideias, todas as coisas do Oriente são diminuídas quando importadas para o mundo Ocidental. ''

East and West, vol. 7, no. 3, October 1956, pp. 274–76



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Epígrafe

Epígrafe

És a tua própria lei-
Um lobo solitário
E não apenas mais
Um qualquer número
Perdido na multidão
Imensa do rebanho

N. Afonso, 27.12.2012

sábado, 5 de janeiro de 2013

Do perigo

Do perigo

É perigoso viver
Andar sobre cordas instáveis
Estar suspenso
No alto do penedo

Pois se um qualquer
Passo te trai
Ou o mais leve olhar
Te desconcentra

Apenas um grande
Equilíbrio te pode manter
Se queres evitar
A queda fatal

Eis o que te digo:
Se vives sem perigo
Não penses que vives
Porque sem perigo
Nem sequer há viver

N. Afonso, 18.12.2012

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Afirmação

Afirmação

Virilidade sem machismo
Feminilidade sem feminismo
Força sem opressão
Liberdade sem libertinagem
Identidade sem racismo

N. Afonso, 10.12.2012
 

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz 2013


Votos de um Feliz 2013 a todos os leitores que neste primeiro ano visitaram este espaço. Voltamos nos próximos dias com outros textos e poemas.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Da força suave

Da força suave

Não te deixes enganar
Pela fraqueza aparente
Daquilo que é forte
Mas que te parece fraco

Pois a água que cai
Também ela parece frágil
Mas mostra a sua força
Quando a enxurrada vem
E poucos lhe resistem

Até a rocha mais dura
Se mostra permeável
Perante a força penetrante
Dessa água qua a muitos
Tão fraca lhes parece

N. Afonso, 28.11.2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Renascer Europeu


O Renascer Europeu, por Pierre Krebs (tradução minha)

'' Um Marxista Italiano, Antonio Gramsci, foi o primeiro a compreender que o Estado não está confinado a um mecanismo político. De facto, ele afirmou que o mecanismo político é paralelo ao chamado mecanismo civil. Por outras palavras, cada mecanismo político é reforçado por um consenso civil, o suporte psicológico das massas.
  Este suporte psicológico expressa-se por meio de um consenso ao nível da cultura, visão do mundo e ethos. De modo a existir, o poder político está assim dependente de um poder cultural difuso no interior das massas. Na base desta análise, Gramsci compreendeu porque os Marxistas não conseguiam tomar o poder nas democracias burguesas: eles não possuiam poder cultural.
 Para ser exacto, é impossível derrubar uma máquina política sem previamente controlar o poder cultural. Em primeiro lugar, deve ser ganha a aprovação do povo: as suas ideias, ethos, modos de pensar, sistema de valores, arte e educação têm de ser trabalhados e modificados. Apenas quando as pessoas sentem necessidade de mudança como uma necessidade evidente por si mesma irá o poder político existente, agora afastado do consenso geral, começar a desmoronar-se e ser derrubado.
 A metapolítica pode ser vista como a guerra revolucionária travada ao nível de visões do mundo, modos de pensar e cultura.
 É precisamente o nível metapolítico que é o nosso ponto de partida. Queremos assumir os laboratórios do pensamento. Consequentemente, a nossa tarefa é a oposição ao ethos igualitário e ao pensamento igualitário sócio-económico com uma cosmovisão baseada na diferenciação: isto significa uma ética e uma teoria sócio-económica que respeita o direito a ser diferente. Queremos criar o sistema de valores e atitudes necessários para ganhar o controlo do poder cultural.
 A nossa estratégia não é ditada nem pelas contingências imediatas da realidade nem pelas agitações superficiais da vida política. Não estamos interessados em facções políticas mas em atitudes perante a vida. Os comentadores continuarão a escrever artigos irrelevantes classificando-nos de '' Nova Direita '' mas também de '' esquerdistas ''. Tais termos são patéticos e deixam-nos indiferentes, porque nem a direita nem a esquerda são as nossas preocupações. Apenas nos interessamos pelas atitudes básicas que as pessoas têm perante a vida. E todos aqueles que estão conscientes quer do perigo Americano quer do Soviético, que entendem a necessidade absoluta do renascimento cultural da Europa, como o anunciador do seu despertar político, que se sentem enraízados num povo e num destino, são nossos amigos e aliados, independentemente das suas visões políticas e ideológicas. O que nos motiva e aquilo porque nos esforçamos não pode ser acomodado dentro das actividades de um partido politico, mas - e insistimos neste ponto - somente dentro do quadro de um projecto metapolítico, exclusivamente cultural. Um programa que fixa novamente para nos tornar conscientes da nossa identidade por meio do despertar da memória do nosso futuro, tal como era. Desta forma, visamos preparar o terreno para aquilo que está para vir.
 Definimos o nosso programa como o renascer total da Europa. Também estabelecemos a estratégia para concretizar este projecto: metapolítica e guerra cultural. Ainda temos de considerar a base e o quadro material dentro dos quais este programa pode ser levado a cabo: o Seminário de Thule, uma Nova Escola de cultura Europeia.
 A tragédia do mundo contemporâneo é a tragédia da deslealdade: o desenraízamento de todas as culturas, o afastamento das nossas verdadeiras naturezas, a atomização do homem, o nivelar dos valores, a uniformidade da vida. Um compromisso exaustivo e crítico com o conhecimento moderno - da filosofia à etologia, da antropologia à sociologia, das ciências naturais à história e à teoria da educação - se executado com o adequado rigor intelectual e parecer metodologia empírica, pode somente contribuir para lançar luz sobre a confusão geral do mundo. É com tais considerações fundamentais que o Seminário de Thule se preocupa. Aberto à vida intelectual e espiritual da nossa época, ainda que crítico de todos os dogmas ideológicos, a sua investigação é baseada num sentido de compromisso com a cultura ocidental. O Seminário de Thule preocupa-se em clarificar as questões básicas no coração do movimento de ideias, em redifinir os conceitos culturais essenciais e a descoberta de novas alternativas aos problemas centrais da época. O Seminário de Thule proclama uma Europa Europeia que tem de se tornar consciente da sua identidade e do seu destino. ''

Fonte: Die Europaeische Wiedergeburt( Grabert, Tubingen, 1982; 82-6, 89)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Natal e o Solstício de Inverno


Natal e o Solstício de Inverno, por Julius Evola

'' Poucos suspeitam de que os feriados (i.e., os dias santos Católicos) actuais, no século dos arranha-céus, da rádio, dos grandes movimentos de massas são celebrados e continuam...uma remota tradição, levando-nos de volta aos tempos em que quase na alvorada da humanidade se iniciou o movimento ascendente da primeira civilização Ariana; uma tradição na qual, além disso, a grande voz daqueles homens se expressa, mais do que uma crença em particular.
  Um facto desconhecido da maioria tem de ser desde já lembrado; que nas suas origens a data do Natal e a do ano novo coincidiam, esta data, não sendo arbitrária, mas ligada a um evento cósmico preciso, o Solstício de Inverno.
  O Solstício de Inverno é, de facto, a 25 de Dezembro, que é a data do Natal, daí conhecida, mas que nas suas origens tinha um significado essencialmente solar. Isso aparece também na Roma Antiga: a data de Natal na Roma Antiga era a do nascer do Sol, o Deus Invicto, Natalis Solis Invicti. Com isso, como dia do Sol novo- dies soli novi - na época imperial, anunciava o início do ano novo, o novo ciclo. Mas este ''nascimento solar'' de Roma no período imperial, por sua vez, referia-se a uma tradição de algum modo mais remota de origem Nórdico-Ária.
   Do restabelecer, Sol, a divindade solar, já aparecera entre os deuses indígenas, ou seja, entre as divindades de origem Romana, transmitidas de ainda mais distantes ciclos de civilização. Na realidade, a religião solar do período imperial, em larga medida, tinha o significado de uma recuperação e quase um renascimento, infelizmente alterada por vários factores de decomposição, de uma muito antiga herança Ariana.
  Na tradição Ária e Nórdica e na própria Roma, o mesmo tema tinha uma importância não apenas mística e religiosa mas sagrada, heróica e cósmica ao mesmo tempo. Era a tradição de um povo, a quem a mesma natureza, a mesma grande voz de que escrevi, naquela época, a tradição de um mistério de ressurreição, do nascimento do renascimento de um início não somente de '' luz '' e nova vida, mas também de Imperium, na mais alta e augusta acepção da palavra ''.

Julius Evola '' Roma e il natale solare nella tradizione nordico-aria '', in « La difesa della raza » (1940).

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A chave e a porta






 A chave e a porta

Qundo abres algumas portas
Com a mesma chave
Não penses que essa chave
Abre todas as portas
Nem digas que aquelas
Que não conseguiste abrir
Não podem ser abertas
Por qualquer outra chave

N. Afonso, 27.11.2012




















terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Algumas cartas de René Guénon







'' Amen deve certamente relacionar-se com o egípcio Amoun (que, coisa bizarra, dá Numa se se lê ao contrário); o sentido principal parece ser o de mistério, coisa oculta ou invisível; daí deriva Emounah, que significa fé. Em AmeN e AUM, há duas letras comuns em três, A e M, que representam dois opostos ou complementares; N indica o produto dos dois termos, e por isso está colocado depois, enquanto que o U indica o laço que os une, e por isso, situa-se entre eles. Unicamente, os dois complementares não parecem ser considerados desde o mesmo ponto de vista nos dois casos, figurados por símbolos hieroglíficos correspondentes. Existe aí algo que ainda não está muito claro e será necessário que pense nisso de novo para falarmos uma próxima vez. '' (Carta a Guido de Giorgio, L'Instant et l' Eternité.)


'' Alberto Magno e São Tomás estavam vinculados a uma organização hermética, mas é possível que a denominação de '' Rosa-Cruz'' não estivesse ainda em uso nessa época, eu de facto, não creio que possa ter aparecido antes do século XIV. ( Carta com destinatário desconhecido, de 5 de Maio de 1935. Publicada em Etudes Traditionelles.)


'' No que se refere à inicição baseada no esoterismo cristão, tudo o que pode conhecer-se dela é mais de ordem cosmológica e '' hermética'' que puramente metafísica ; isto está relacionado sem dúvida com a mentalidade ocidental, mais do que com o Cristianismo em si mesmo. Seria não obstante pouco provável que nunca tivesse havido outra coisa, mas deve ter estado sempre reservada a um número muito pequeno e não deixou vestígios aparentes; de outro modo, seria de supor que se trata de uma tradição incompleta na sua própria essência; mas o anterior nunca se pôde expressar de outro modo que por uma '' transposição '' dos mesmos símbolos a um nível superior.
-Em todo o caso, relativamente à fundação dos três principados romanos, o simbolismo hermético é de facto evidente, como você diz; e o mesmo em relação a tudo o que diz respeito aos contos e ao chamado '' folclore ''; até é raro, creio, que este simbolismo se haja conservado tão claramente em casos semelhantes... Não pensaria fazer algum trabalho sobre todas estas questões? Sem dúvida valeria a pena, especialmente quando o tema, sobretudo desde este ponto de vista, não deve ter sido muito estudado até agora. ''
(Carta a Vasile Lovinescu de 19 de Maio de 1935. Publicada em Symbolos, nº17-18, Guatemala, 1999.)


- '' O que diz Clemente de Alexandria da Esfinge, confirmando as conclusões às quais vós chegastes, é muito interessante. Parece além disso que não haja uma relação muito directa entre a Esfinge grega e a egípcia, mesmo que seja designada pelo mesmo nome; que pensais vós? - Muitos pretenderam ver na Esfinge egípcia um símbolo quaternário ( combinação dos quatro animais da visão de Ezequiel e do Apocalipse), mas na realidade não está composta visivelmente mais do que por dois elementos, cabeça humana e corpo de leão. Nunca vi nenhum exemplar da Esfinge egípcia alada ,senão unicamente, como variante, esfinges com cabeça de carneiro (símbolo de Amon)''.
(Carta a Ananda K. Coomaraswamy, 2 de Outubro de 1945)


'' Canselliet ( que não é Fulcanelli, mas que se faz passar por seu continuador) não tem certamente nada de um ''mestre ''; além disso, do ponto de vista tradicional, não pode vincular-se mais ou menos efectivamente mais do que a uma dessas correntes desviadas no sentido '' naturalista'' às quais me referi em diversas ocasiões''. (Carta a Eric Ollivier, 26 de Setembro de 1946)


- O essencial, como dizeis, é estar de acordo no fundo. A palavra '' alquimia '' dá lugar, de facto, na maioria das pessoas, à confusão de que falais e várias vezes o assinalei; creio que '' hermetismo '' seria mais conveniente ( ou melhor se poderia dizer '' alquimia espiritual '' para evitar qualquer equívoco). '' Gnosis '' tem um sentido muito mais amplo, e por outra parte, tem o inconveniente de que muitos confundem '' gnosis '' e '' gnosticismo '', o que no entanto não é a mesma coisa. Em relação à '' tradição primordial '', a expressão não seria aplicável nesse caso, pois não se trata na realidade mais do que uma  forma derivada, como além do mais o são todas as que se conhecem na actualidade.
   É muito exacto dizer que o sal é apenas a união do enxofre e do mercúrio, ou não é mais precisamente o produto desta união? A confusão filosófica do ser não-manifestado com o nada é sem dúvida enorme, mas há que precaver-se de que tudo o que os homens são incapazes de conceber ( e o horizonte intelectual dos filósofos modernos está muito estreitamente limitado) , não pode realmente surgir-lhes mais que como o nada ''.
( Carta a Louis Cattiaux, 20 de Fevereiro de 1950)


'' Estamos muito de acordo no que concerne ao sal; mas não me explicou bem que faleis do '' enxofre terrestre '' e do '' mercúrio celeste '': isso não vem tornar a terra masculina e o Céu feminino, frente ao simbolismo tradicional, mais geralmente admitido? ( Digo mais geralmente porque parece que a tradição dos antigos egípcios seja a excepção; mas sabem-se realmente tão poucas coisas dela que é impossível conhecer a razão desta anomalia pelo menos aparente e bastante surpreendente à primeira vista) ''.
( Carta a Louis Cattiaux, 20 de Março de 1950)

Cartas extraídas de '' Sobre Hermetismo '' (Tradução minha)







sábado, 1 de dezembro de 2012

O guerreiro e a cidade




'' O guerreiro e a cidade '', por Dominique Venner ( Tradução minha)

'' Em 1814, no final das guerras Napoleónicas, Benjamin Constant escreveu com alívio: '' Chegámos à era do comércio, a era que deve necessariamente substituir a da guerra, tal como a da guerra teve necessariamente que precedê-la ''. Ingénuo Benjamin! Assumiu amplamente a ideia de progresso indefinido, apoiando o advento da paz entre homens e nações.
 A era do comércio suave substituindo a da guerra...Sabemos o que o futuro fez desta profecia! A era do comércio foi imposta, certamente, mas pela multiplicação das guerras. Sob a influência do comércio, ciência e indústria- por outras palavras, o progresso- as guerras tomaram mesmo proporções monstruosas que ninguém poderia ter imaginado.
 Havia, no entanto, alguma verdade na falsa previsão de Constant. Se as guerras continuaram e até prosperaram, por outro lado, a figura do guerreiro perdeu o seu prestígio social em benefício da duvidosa figura do mercador. Esta é a nova era em que ainda vivemos, até ao momento.
 A figura do guerreiro foi destronada, mesmo quando a instituição militar durou mais do que qualquer outra na Europa desde 1814. Perdurou desde o tempo da Íliada- trinta séculos - transformando-se, adaptando-se a todas as mudanças nas épocas, guerras, sociedades e regimes políticos, mas ainda continua a preservar a sua essência, que é a religião do orgulho, o dever e a coragem. Esta permanência, pelo contrário, só é comparável com outra instituição imposta: a Igreja ( ou as Igrejas). O leitor está chocado! Uma surpreendente comparação! E mesmo assim...
 O que é o exército desde a Antiguidade? É uma instituição quase religiosa, com a sua própria história, heróis, leis e ritos. Uma instituiçaõ muito antiga, até mesmo mais velha do que a Igreja, nascida de necessidades tão antigas como a humanidade, e que agora está a deixar de existir. Entre os Europeus, nasceu de um espírito que é específico deles e os quais- ao contrário da tradição Chinesa, por exemplo- fazem da guerra um valor em si mesmo. Por outras palavras, nasceu de ume religião cívica surgida da guerra, cuja essência, numa palavra, é a admiração pela coragem no rosto da morte.
 Esta religião pode definir-se como a da cidade no sentido Grego ou Romano da palavra. Numa linguagem mais  moderna, é a religião da pátria, grande ou pequena. Como Heitor disse há trinta séculos no livro XII da Íliada, para aludir a um mau presságio: '' Não é por um bom resultado que lutamos pela nossa pátria ''. ( XII, 243). A valentia e a pátria estão ligadas. Na última batalha da guerra de Tróia, sentindo-se ameaçado e condenado, Heitor chorou de desespero com o clamor: '' Ó bem! Não pretendo morrer sem lutar, nem sem glória, nem sem alcançar nenhum feito que seja contado nos tempos vindouros. '' (XXII, 304-305). Encontramos este lamento de orgulho trágico em todas as épocas de uma história que glorifica o herói desafortunado, engrandecido por uma derrota épica: as Termópilas, a canção de Rolando ou Dien Bien Phu.
 Cronologicamente, a linha guerreira aparece antes do Estado. Rómulo e as suas belicosas companhias traçaram primeiro os futuros limites da Cidade e estabeleceram-na pela sua lei inflexível. Por haver transgredido a lei, Remo foi sacrificado pelo seu irmão. Então, e só então, os fundadores raptaram as Sabinas para assegurarem a sua descendência. Na fundação do Estado Europeu, a ordem dos guerreiros livres precede a das famílias. Foi por isso que Platão viu Esparta muito mais próxima do modelo da Cidade Grega do que Atenas. (1)
 Ainda que possam parecer débeis, os exércitos Europeus actuais constituem ilhas de ordem num meio em seu redor que desmoronou, onde Estados fictícios promovem o caos. Ainda que diminuído, um exército permanece como uma instituição baseada na férrea disciplina e participante da disciplina cívica. Por esta razão, esta instituição carrega em si uma semente genética de restauração, não por procurar o poder ou miltarizar a sociedade, mas para reafirmar a primazia da ordem sobre a desordem. Foi o que as compagnonnages da espada fizeram depois da desintegração do Império Romano e tantas outras depois disso. ''

Notas:
1- In '' Les metamorphoses de la cité, essai sur la dynamique de l'Occident (Paris, Flammarion, 2010), baseado na leitura de Homero, Pierre Manent realça o papel das aristocracias de tipo guerreiro na fundação da cidade antiga.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Inominável

Inominável

Sei que rostos se escondem
Por detrás das máscaras
Que mãos tocam
As cordas invisíveis

Qual a melodia que soa
No final do dia
Os segredos ditos
No escuro do silêncio

Que homens se erguem
No meio da tempestade
Qual a voz que acalma
A criança que chora
Quando o luar brilha
Na noite sem fim...

Qual o código secreto
Que abre o cofre

E os nomes inscritos
No livro da vida
Os rios que nascem
Em montanhas ocultas

Quais os seios que amamentam
A sede de conhecimento
As sementes que germinam
Nos mais férteis campos

E qual a porta que guarda
O templo de luz...

N. Afonso, 27.11.2012


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Cardos ao Sol

Cardos ao Sol

Brilha alto o Sol
No seu esplendor
O dia é fugaz para quem vive a correr
Mas longo para quem é paciente

A estrada é estreita
Para o viajante
Os passos lentos em silêncio
A viagem é árdua e penosa

O tempo gira
Em teu redor
Essa espiral sem fim

Crescem flores no precipício
E espinhos nos verdes cardos

Um manto de névoa
Cobre o topo
De uma montanha
De incertezas

Existe beleza numa
Planície estéril
E algum orgulho
No abismo criador?

N. Afonso, 21.11.2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Selo supremo

Selo supremo

Derretem os gelos
Os medos e ilusões
Congela a angústia
Depois morre a inércia

Das cinzas da dor
Renasce a força
Um rochedo da vontade

Há um sopro que apaga
As velas frágeis da mentira
Vê como se desfazem
As torres altas da iniquidade

Despedaçam-se ídolos e ideais
Com pés de barro fabricados
Também eles apodreceram
Repletos do bolor da falsidade

Tudo cai à tua passagem
Homens, muros, poderes, ideias
Selo ímpar da verdade!

N. Afonso, 15.11.2012

sábado, 27 de outubro de 2012

Europa patria nostra

Europa patria nostra


Desde tempos remotos
Nesta terra habitaram
Agricultores e pastores
Conquistadores e navegadores

Gentes nómadas e sedentárias
Culturas e línguas várias

Há mais de um século
Que Nietzsche partiu
Antes dele Goethe triunfou
Homero, estás já longe...
E Péricles, o que nos deixou?

A Grécia dos primórdios
De outros mais nos falou
Apolo, Leónidas e Zeus
Dórios, Espartanos e Aqueus

Oráculo de Delfos, Platão, Aristóteles
Entre tantos outros
Que enumerar não vou

Ó Europa, pátria nossa
O teu legado não esquecemos
Nos escombros de agora
Muitos de nós perecemos

Aqui se ergueram sacros templos e catedrais
Mas hoje o que resta, ó venais?

Governaram reis e imperadores
Lutaram plebeus, santos e aristocratas
Brilharam poetas, sábios e guerreiros
Também iniciados e cavaleiros

Cantaram monges e trovadores
Fomos pagãos antes de cristãos
Roma foi até Monarquia
Antes do Império ver o dia

Tantos povos
Por aqui passaram
Neste velho continente
Que em ruínas deixaram

Iberos e Celtas
Germanos e Vikings
Eslavos e Helenos
Deles todos nos lembremos

Preservemos Dante e Shakespeare
Camões, Yeats e Pessoa
Rilke, Leopardi, Holderlin
Olha Eliade em Lisboa!

Junger foi dissidente
Vida cheia e longa viveu
Codreanu legionário
Pelos seus combateu

Também Evola e Guénon
A sua herança nos deixaram

Arda a chama
Da nossa revolução
Não perdoamos a traição.

N. Afonso, 23.10.2012


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mercados e mercadores

Mercados e mercadores

Dançam cisnes no lago
Ao som de uma celestial melodia
Negoceiam os mercadores ao longe
Perde-se o rasto ao dia

Onde estão agora os deuses,
Mitos, rituais e sacrifícios?
Chegaram há muito os vendilhões
Da honra e da coisa pública

Mercado é palavra santa
Na boca hipócrita dos que a veneram
É falsa a moralidade burguesa
Nos templos há muito instalada

Tudo é para vender:
Pátrias, terras, ilusões
Povos, dignidade e acções
É o modo liberal de viver

A idolatria do vil metal
Desfaz sonhos e esperanças
A ganância não tem igual
Haja ouro nas suas lembranças

N. Afonso, 20.10.2012




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Faina interior

Faina interior

Sussurras-me uns versos suaves
Mas já cá não estás
Quando o Inverno chegar
Partes no comboio da madrugada

Atracam os barcos no cais
Perdem-se uns homens no mar
Um dia, outros no seu lugar,
Lançarão também as redes

Em busca de peixe
Nesse mar profundo e escuro
A noite é longa e fria
A vida é breve e tensa

As ondas levam e trazem
A memória é um arquivo interior
Repleto de viagens inacabadas
O teu regresso está próximo

O caminho de volta
É perigoso, lento mas valioso
Avisto o teu vulto ao longe
Chegas e ficas. É isto. Permanecemos.

N. Afonso, 20.10.2012

domingo, 21 de outubro de 2012

O que ficará de pé

O que ficará de pé

É lícito perguntar
Se alguém sabe
O que ficará de pé
Quando tudo se desmoronar

Serão homens ou animais
Pedras ou vegetais
O Sol ou o luar
Quando tudo terminar?

Somos a última barreira
A última linha de resistência
Antes do ataque final
Ao coração da existência

Ninguém sabe o dia
A hora ou o local
Que não te domine a agonia
No momento crucial

E fica também a saber
Que o fim vem antes
De um novo início
É algo que não podes perder

N. Afonso, 09.10.2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O corpo de arco-íris no Budismo Tibetano



'' Através destes métodos avançados do dzogchen (grande perfeição), os praticantes consumados podem conduzir as suas vidas até um fim extraordinário e triunfante. Quando morrem, permitem que o seu corpo seja reabsorvido de volta na essência de luz dos elementos que o criaram e, consequentemente, o corpo material dissolve-se em luz e desaparece completamente. Este processo é conhecido pela designação de '' corpo de arco-íris '' ou '' corpo de luz '', porque a sua dissolução é frequentemente acompanhada por manifestações espontâneas desse género. Os antigos tantras do dzogchen - e os escritos dos grandes mestres - distinguem diferentes categorias deste fenómeno espantoso e sobrenatural, pois houve tempo em que, apesar de não ser vulgar, era razoavelmente frequente.
  Em geral, uma pessoa que sabe que está prestes a atingir o '' corpo de arco-íris '' pede que a deixem sozinha e sem ser perturbada durante sete dias num quarto ou numa tenda e, no oitavo, só as unhas e os cabelos, as impurezas do corpo, são encontrados.
  Para nós isto pode ser uma coisa muito difícil de acreditar, mas a história factual da linhagem do dzogchen está cheia de exemplos de indivíduos que atingiram o '' corpo de arco-íris '' e, tal como Dudjom Rinpoche costumava dizer, não se trata apenas de histórias antigas. Entre os muitos exemplos, gostaria de escolher um dos mais recentes e famosos, com o qual tenho uma ligação pessoal, ocorrido em 1952 em Timor-Leste e testemunhado por muita gente. O homem que o conseguiu, Sogam Namgyal, era o pai do meu tutor e irmão do lama Tsetsen, cuja morte descrevi ao princípio deste livro. Era um homem muito simples e humilde, que ganhava a vida como escultor de pedra itinerante, gravando mantras e textos sagrados. Alguns dizem que na juventude fora caçador e que recebera os ensinamentos de um grande mestre, mas na realidade, ninguém sabia que se tratava de um praticante, daqueles que designamos por « ocultos «. Algum tempo antes da sua morte era visto a subir as montanhas, onde se sentava recortado contra o céu, olhando para o espaço, e compunha as suas próprias canções e cânticos, que entoava em substituição dos tradicionais. Ninguém fazia ideia do que ele andava a fazer, até que um dia adoeceu ou pareceu adoecer, e, por estranho que possa parecer, mostrou-se cada vez mais feliz. Quando a doença se agravou, a família chamou mestres e médicos, e o filho disse-lhe que não se esqueceria dos seus ensinamentos, mas Namgyal sorriu e respondeu: '' Já os esqueci a todos e, de qualquer modo, não há nada para recordar. Tudo é ilusão mas estou confiante de que tudo correrá bem ''. Um pouco antes da sua morte, aos setenta e nove anos, afirmou: '' Tudo o que peço é que, quando eu morrer, não toquem no meu corpo durante uma semana ''. Quando faleceu, a família enrolou-lhe o corpo em panos e convidou monges e lamas a praticarem por ele. Colocaram o corpo numa divisão da casa e não puderam deixar de notar que, apesar de Namgyal ter sido uma pessoa alta e forte, não tiveram qualquer problema para o pôr nesse quarto, era como se o corpo tivesse encolhido. Ao mesmo tempo, foi vista por toda a casa uma extraordinária exibição de luz, com as cores do arco-íris. Ao sexto dia, quando o olharam, verificaram que o corpo se tornava cada vez mais pequeno, e ao oitavo, na manhã em que deveria realizar-se o funeral, chegaram os homens para levarem o corpo, mas ao desenrolarem os panos encontraram apenas dentro destes as unhas e os cabelos.
  O meu mestre Jamyang Khyentse pediu que lhos enviassem e confirmou que se tratava de um caso de « corpo de arco-íris ''.

Sogyal Rinpoche '' O livro Tibetano da vida e da morte, cap.X '' o corpo de arco-íris ''.

Jamyang Khyentse Chokyi Lodro

sábado, 13 de outubro de 2012

Evola e a Tradição



'' Enquanto ' transcendência imanente ' o tradere, a transmissão (logo, a Tradição) não se refere a uma abstracção que se possa contemplar, mas a uma energia que, apesar de invisível não deixa de ser real. É aos chefes e à elite que cabe assegurar essa transmissão, no interior de certos quadros institucionais, variáveis mas homólogos na sua finalidade. É evidente que esta se encontra perfeitamente garantida enquanto é paralela à continuidade rigorosamente controlada de um mesmo sangue.  De facto, quando a cadeia de transmissão se interrompe é muito difícil restabelecê-la. Que a Tradição seja o oposto de tudo o que é democracia, igualitarismo, primado da sociedade sobre o Estado, poder que vem de baixo, etc., é inútil sublinhá-lo. ''
(Julius Evola, '' O Arco e a Clava, 1968)