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terça-feira, 16 de outubro de 2012

O corpo de arco-íris no Budismo Tibetano



'' Através destes métodos avançados do dzogchen (grande perfeição), os praticantes consumados podem conduzir as suas vidas até um fim extraordinário e triunfante. Quando morrem, permitem que o seu corpo seja reabsorvido de volta na essência de luz dos elementos que o criaram e, consequentemente, o corpo material dissolve-se em luz e desaparece completamente. Este processo é conhecido pela designação de '' corpo de arco-íris '' ou '' corpo de luz '', porque a sua dissolução é frequentemente acompanhada por manifestações espontâneas desse género. Os antigos tantras do dzogchen - e os escritos dos grandes mestres - distinguem diferentes categorias deste fenómeno espantoso e sobrenatural, pois houve tempo em que, apesar de não ser vulgar, era razoavelmente frequente.
  Em geral, uma pessoa que sabe que está prestes a atingir o '' corpo de arco-íris '' pede que a deixem sozinha e sem ser perturbada durante sete dias num quarto ou numa tenda e, no oitavo, só as unhas e os cabelos, as impurezas do corpo, são encontrados.
  Para nós isto pode ser uma coisa muito difícil de acreditar, mas a história factual da linhagem do dzogchen está cheia de exemplos de indivíduos que atingiram o '' corpo de arco-íris '' e, tal como Dudjom Rinpoche costumava dizer, não se trata apenas de histórias antigas. Entre os muitos exemplos, gostaria de escolher um dos mais recentes e famosos, com o qual tenho uma ligação pessoal, ocorrido em 1952 em Timor-Leste e testemunhado por muita gente. O homem que o conseguiu, Sogam Namgyal, era o pai do meu tutor e irmão do lama Tsetsen, cuja morte descrevi ao princípio deste livro. Era um homem muito simples e humilde, que ganhava a vida como escultor de pedra itinerante, gravando mantras e textos sagrados. Alguns dizem que na juventude fora caçador e que recebera os ensinamentos de um grande mestre, mas na realidade, ninguém sabia que se tratava de um praticante, daqueles que designamos por « ocultos «. Algum tempo antes da sua morte era visto a subir as montanhas, onde se sentava recortado contra o céu, olhando para o espaço, e compunha as suas próprias canções e cânticos, que entoava em substituição dos tradicionais. Ninguém fazia ideia do que ele andava a fazer, até que um dia adoeceu ou pareceu adoecer, e, por estranho que possa parecer, mostrou-se cada vez mais feliz. Quando a doença se agravou, a família chamou mestres e médicos, e o filho disse-lhe que não se esqueceria dos seus ensinamentos, mas Namgyal sorriu e respondeu: '' Já os esqueci a todos e, de qualquer modo, não há nada para recordar. Tudo é ilusão mas estou confiante de que tudo correrá bem ''. Um pouco antes da sua morte, aos setenta e nove anos, afirmou: '' Tudo o que peço é que, quando eu morrer, não toquem no meu corpo durante uma semana ''. Quando faleceu, a família enrolou-lhe o corpo em panos e convidou monges e lamas a praticarem por ele. Colocaram o corpo numa divisão da casa e não puderam deixar de notar que, apesar de Namgyal ter sido uma pessoa alta e forte, não tiveram qualquer problema para o pôr nesse quarto, era como se o corpo tivesse encolhido. Ao mesmo tempo, foi vista por toda a casa uma extraordinária exibição de luz, com as cores do arco-íris. Ao sexto dia, quando o olharam, verificaram que o corpo se tornava cada vez mais pequeno, e ao oitavo, na manhã em que deveria realizar-se o funeral, chegaram os homens para levarem o corpo, mas ao desenrolarem os panos encontraram apenas dentro destes as unhas e os cabelos.
  O meu mestre Jamyang Khyentse pediu que lhos enviassem e confirmou que se tratava de um caso de « corpo de arco-íris ''.

Sogyal Rinpoche '' O livro Tibetano da vida e da morte, cap.X '' o corpo de arco-íris ''.

Jamyang Khyentse Chokyi Lodro

1 comentário:

  1. Apesar de nunca ter visto um caso de "corpo de arco-íris" acredito que isso possa acontecer, como o fenômeno da "auto-combustão humana", entre outros fenômenos "estranhos" ou desconhecidos. Prefiro usar o termo "desconhecido" por causa da interpretação ocidental, porque para os iniciantes a frase "fenômenos estranhos" ressoa com "receio", algo que deveria ser natural, apesar da disciplina do praticante, mestre iogue para atingir tal estado.

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