Número total de visualizações de páginas

sábado, 1 de dezembro de 2012

O guerreiro e a cidade




'' O guerreiro e a cidade '', por Dominique Venner ( Tradução minha)

'' Em 1814, no final das guerras Napoleónicas, Benjamin Constant escreveu com alívio: '' Chegámos à era do comércio, a era que deve necessariamente substituir a da guerra, tal como a da guerra teve necessariamente que precedê-la ''. Ingénuo Benjamin! Assumiu amplamente a ideia de progresso indefinido, apoiando o advento da paz entre homens e nações.
 A era do comércio suave substituindo a da guerra...Sabemos o que o futuro fez desta profecia! A era do comércio foi imposta, certamente, mas pela multiplicação das guerras. Sob a influência do comércio, ciência e indústria- por outras palavras, o progresso- as guerras tomaram mesmo proporções monstruosas que ninguém poderia ter imaginado.
 Havia, no entanto, alguma verdade na falsa previsão de Constant. Se as guerras continuaram e até prosperaram, por outro lado, a figura do guerreiro perdeu o seu prestígio social em benefício da duvidosa figura do mercador. Esta é a nova era em que ainda vivemos, até ao momento.
 A figura do guerreiro foi destronada, mesmo quando a instituição militar durou mais do que qualquer outra na Europa desde 1814. Perdurou desde o tempo da Íliada- trinta séculos - transformando-se, adaptando-se a todas as mudanças nas épocas, guerras, sociedades e regimes políticos, mas ainda continua a preservar a sua essência, que é a religião do orgulho, o dever e a coragem. Esta permanência, pelo contrário, só é comparável com outra instituição imposta: a Igreja ( ou as Igrejas). O leitor está chocado! Uma surpreendente comparação! E mesmo assim...
 O que é o exército desde a Antiguidade? É uma instituição quase religiosa, com a sua própria história, heróis, leis e ritos. Uma instituiçaõ muito antiga, até mesmo mais velha do que a Igreja, nascida de necessidades tão antigas como a humanidade, e que agora está a deixar de existir. Entre os Europeus, nasceu de um espírito que é específico deles e os quais- ao contrário da tradição Chinesa, por exemplo- fazem da guerra um valor em si mesmo. Por outras palavras, nasceu de ume religião cívica surgida da guerra, cuja essência, numa palavra, é a admiração pela coragem no rosto da morte.
 Esta religião pode definir-se como a da cidade no sentido Grego ou Romano da palavra. Numa linguagem mais  moderna, é a religião da pátria, grande ou pequena. Como Heitor disse há trinta séculos no livro XII da Íliada, para aludir a um mau presságio: '' Não é por um bom resultado que lutamos pela nossa pátria ''. ( XII, 243). A valentia e a pátria estão ligadas. Na última batalha da guerra de Tróia, sentindo-se ameaçado e condenado, Heitor chorou de desespero com o clamor: '' Ó bem! Não pretendo morrer sem lutar, nem sem glória, nem sem alcançar nenhum feito que seja contado nos tempos vindouros. '' (XXII, 304-305). Encontramos este lamento de orgulho trágico em todas as épocas de uma história que glorifica o herói desafortunado, engrandecido por uma derrota épica: as Termópilas, a canção de Rolando ou Dien Bien Phu.
 Cronologicamente, a linha guerreira aparece antes do Estado. Rómulo e as suas belicosas companhias traçaram primeiro os futuros limites da Cidade e estabeleceram-na pela sua lei inflexível. Por haver transgredido a lei, Remo foi sacrificado pelo seu irmão. Então, e só então, os fundadores raptaram as Sabinas para assegurarem a sua descendência. Na fundação do Estado Europeu, a ordem dos guerreiros livres precede a das famílias. Foi por isso que Platão viu Esparta muito mais próxima do modelo da Cidade Grega do que Atenas. (1)
 Ainda que possam parecer débeis, os exércitos Europeus actuais constituem ilhas de ordem num meio em seu redor que desmoronou, onde Estados fictícios promovem o caos. Ainda que diminuído, um exército permanece como uma instituição baseada na férrea disciplina e participante da disciplina cívica. Por esta razão, esta instituição carrega em si uma semente genética de restauração, não por procurar o poder ou miltarizar a sociedade, mas para reafirmar a primazia da ordem sobre a desordem. Foi o que as compagnonnages da espada fizeram depois da desintegração do Império Romano e tantas outras depois disso. ''

Notas:
1- In '' Les metamorphoses de la cité, essai sur la dynamique de l'Occident (Paris, Flammarion, 2010), baseado na leitura de Homero, Pierre Manent realça o papel das aristocracias de tipo guerreiro na fundação da cidade antiga.

Sem comentários:

Enviar um comentário