Cardos ao Sol
Brilha alto o Sol
No seu esplendor
O dia é fugaz para quem vive a correr
Mas longo para quem é paciente
A estrada é estreita
Para o viajante
Os passos lentos em silêncio
A viagem é árdua e penosa
O tempo gira
Em teu redor
Essa espiral sem fim
Crescem flores no precipício
E espinhos nos verdes cardos
Um manto de névoa
Cobre o topo
De uma montanha
De incertezas
Existe beleza numa
Planície estéril
E algum orgulho
No abismo criador?
N. Afonso, 21.11.2012
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Selo supremo
Selo supremo
Derretem os gelos
Os medos e ilusões
Congela a angústia
Depois morre a inércia
Das cinzas da dor
Renasce a força
Um rochedo da vontade
Há um sopro que apaga
As velas frágeis da mentira
Vê como se desfazem
As torres altas da iniquidade
Despedaçam-se ídolos e ideais
Com pés de barro fabricados
Também eles apodreceram
Repletos do bolor da falsidade
Tudo cai à tua passagem
Homens, muros, poderes, ideias
Selo ímpar da verdade!
N. Afonso, 15.11.2012
Derretem os gelos
Os medos e ilusões
Congela a angústia
Depois morre a inércia
Das cinzas da dor
Renasce a força
Um rochedo da vontade
Há um sopro que apaga
As velas frágeis da mentira
Vê como se desfazem
As torres altas da iniquidade
Despedaçam-se ídolos e ideais
Com pés de barro fabricados
Também eles apodreceram
Repletos do bolor da falsidade
Tudo cai à tua passagem
Homens, muros, poderes, ideias
Selo ímpar da verdade!
N. Afonso, 15.11.2012
domingo, 25 de novembro de 2012
terça-feira, 20 de novembro de 2012
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
sábado, 10 de novembro de 2012
sábado, 27 de outubro de 2012
Europa patria nostra
Europa patria nostra
Desde tempos remotos
Nesta terra habitaram
Agricultores e pastores
Conquistadores e navegadores
Gentes nómadas e sedentárias
Culturas e línguas várias
Há mais de um século
Que Nietzsche partiu
Antes dele Goethe triunfou
Homero, estás já longe...
E Péricles, o que nos deixou?
A Grécia dos primórdios
De outros mais nos falou
Apolo, Leónidas e Zeus
Dórios, Espartanos e Aqueus
Oráculo de Delfos, Platão, Aristóteles
Entre tantos outros
Que enumerar não vou
Ó Europa, pátria nossa
O teu legado não esquecemos
Nos escombros de agora
Muitos de nós perecemos
Aqui se ergueram sacros templos e catedrais
Mas hoje o que resta, ó venais?
Governaram reis e imperadores
Lutaram plebeus, santos e aristocratas
Brilharam poetas, sábios e guerreiros
Também iniciados e cavaleiros
Cantaram monges e trovadores
Fomos pagãos antes de cristãos
Roma foi até Monarquia
Antes do Império ver o dia
Tantos povos
Por aqui passaram
Neste velho continente
Que em ruínas deixaram
Iberos e Celtas
Germanos e Vikings
Eslavos e Helenos
Deles todos nos lembremos
Preservemos Dante e Shakespeare
Camões, Yeats e Pessoa
Rilke, Leopardi, Holderlin
Olha Eliade em Lisboa!
Junger foi dissidente
Vida cheia e longa viveu
Codreanu legionário
Pelos seus combateu
Também Evola e Guénon
A sua herança nos deixaram
Arda a chama
Da nossa revolução
Não perdoamos a traição.
N. Afonso, 23.10.2012
Desde tempos remotos
Nesta terra habitaram
Agricultores e pastores
Conquistadores e navegadores
Gentes nómadas e sedentárias
Culturas e línguas várias
Há mais de um século
Que Nietzsche partiu
Antes dele Goethe triunfou
Homero, estás já longe...
E Péricles, o que nos deixou?
A Grécia dos primórdios
De outros mais nos falou
Apolo, Leónidas e Zeus
Dórios, Espartanos e Aqueus
Oráculo de Delfos, Platão, Aristóteles
Entre tantos outros
Que enumerar não vou
Ó Europa, pátria nossa
O teu legado não esquecemos
Nos escombros de agora
Muitos de nós perecemos
Aqui se ergueram sacros templos e catedrais
Mas hoje o que resta, ó venais?
Governaram reis e imperadores
Lutaram plebeus, santos e aristocratas
Brilharam poetas, sábios e guerreiros
Também iniciados e cavaleiros
Cantaram monges e trovadores
Fomos pagãos antes de cristãos
Roma foi até Monarquia
Antes do Império ver o dia
Tantos povos
Por aqui passaram
Neste velho continente
Que em ruínas deixaram
Iberos e Celtas
Germanos e Vikings
Eslavos e Helenos
Deles todos nos lembremos
Preservemos Dante e Shakespeare
Camões, Yeats e Pessoa
Rilke, Leopardi, Holderlin
Olha Eliade em Lisboa!
Junger foi dissidente
Vida cheia e longa viveu
Codreanu legionário
Pelos seus combateu
Também Evola e Guénon
A sua herança nos deixaram
Arda a chama
Da nossa revolução
Não perdoamos a traição.
N. Afonso, 23.10.2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Mercados e mercadores
Mercados e mercadores
Dançam cisnes no lago
Ao som de uma celestial melodia
Negoceiam os mercadores ao longe
Perde-se o rasto ao dia
Onde estão agora os deuses,
Mitos, rituais e sacrifícios?
Chegaram há muito os vendilhões
Da honra e da coisa pública
Mercado é palavra santa
Na boca hipócrita dos que a veneram
É falsa a moralidade burguesa
Nos templos há muito instalada
Tudo é para vender:
Pátrias, terras, ilusões
Povos, dignidade e acções
É o modo liberal de viver
A idolatria do vil metal
Desfaz sonhos e esperanças
A ganância não tem igual
Haja ouro nas suas lembranças
N. Afonso, 20.10.2012
Dançam cisnes no lago
Ao som de uma celestial melodia
Negoceiam os mercadores ao longe
Perde-se o rasto ao dia
Onde estão agora os deuses,
Mitos, rituais e sacrifícios?
Chegaram há muito os vendilhões
Da honra e da coisa pública
Mercado é palavra santa
Na boca hipócrita dos que a veneram
É falsa a moralidade burguesa
Nos templos há muito instalada
Tudo é para vender:
Pátrias, terras, ilusões
Povos, dignidade e acções
É o modo liberal de viver
A idolatria do vil metal
Desfaz sonhos e esperanças
A ganância não tem igual
Haja ouro nas suas lembranças
N. Afonso, 20.10.2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Faina interior
Faina interior
Sussurras-me uns versos suaves
Mas já cá não estás
Quando o Inverno chegar
Partes no comboio da madrugada
Atracam os barcos no cais
Perdem-se uns homens no mar
Um dia, outros no seu lugar,
Lançarão também as redes
Em busca de peixe
Nesse mar profundo e escuro
A noite é longa e fria
A vida é breve e tensa
As ondas levam e trazem
A memória é um arquivo interior
Repleto de viagens inacabadas
O teu regresso está próximo
O caminho de volta
É perigoso, lento mas valioso
Avisto o teu vulto ao longe
Chegas e ficas. É isto. Permanecemos.
N. Afonso, 20.10.2012
Sussurras-me uns versos suaves
Mas já cá não estás
Quando o Inverno chegar
Partes no comboio da madrugada
Atracam os barcos no cais
Perdem-se uns homens no mar
Um dia, outros no seu lugar,
Lançarão também as redes
Em busca de peixe
Nesse mar profundo e escuro
A noite é longa e fria
A vida é breve e tensa
As ondas levam e trazem
A memória é um arquivo interior
Repleto de viagens inacabadas
O teu regresso está próximo
O caminho de volta
É perigoso, lento mas valioso
Avisto o teu vulto ao longe
Chegas e ficas. É isto. Permanecemos.
N. Afonso, 20.10.2012
domingo, 21 de outubro de 2012
O que ficará de pé
O que ficará de pé
É lícito perguntar
Se alguém sabe
O que ficará de pé
Quando tudo se desmoronar
Serão homens ou animais
Pedras ou vegetais
O Sol ou o luar
Quando tudo terminar?
Somos a última barreira
A última linha de resistência
Antes do ataque final
Ao coração da existência
Ninguém sabe o dia
A hora ou o local
Que não te domine a agonia
No momento crucial
E fica também a saber
Que o fim vem antes
De um novo início
É algo que não podes perder
N. Afonso, 09.10.2012
É lícito perguntar
Se alguém sabe
O que ficará de pé
Quando tudo se desmoronar
Serão homens ou animais
Pedras ou vegetais
O Sol ou o luar
Quando tudo terminar?
Somos a última barreira
A última linha de resistência
Antes do ataque final
Ao coração da existência
Ninguém sabe o dia
A hora ou o local
Que não te domine a agonia
No momento crucial
E fica também a saber
Que o fim vem antes
De um novo início
É algo que não podes perder
N. Afonso, 09.10.2012
terça-feira, 16 de outubro de 2012
O corpo de arco-íris no Budismo Tibetano
'' Através destes métodos avançados do dzogchen (grande perfeição), os praticantes consumados podem conduzir as suas vidas até um fim extraordinário e triunfante. Quando morrem, permitem que o seu corpo seja reabsorvido de volta na essência de luz dos elementos que o criaram e, consequentemente, o corpo material dissolve-se em luz e desaparece completamente. Este processo é conhecido pela designação de '' corpo de arco-íris '' ou '' corpo de luz '', porque a sua dissolução é frequentemente acompanhada por manifestações espontâneas desse género. Os antigos tantras do dzogchen - e os escritos dos grandes mestres - distinguem diferentes categorias deste fenómeno espantoso e sobrenatural, pois houve tempo em que, apesar de não ser vulgar, era razoavelmente frequente.
Em geral, uma pessoa que sabe que está prestes a atingir o '' corpo de arco-íris '' pede que a deixem sozinha e sem ser perturbada durante sete dias num quarto ou numa tenda e, no oitavo, só as unhas e os cabelos, as impurezas do corpo, são encontrados.
Para nós isto pode ser uma coisa muito difícil de acreditar, mas a história factual da linhagem do dzogchen está cheia de exemplos de indivíduos que atingiram o '' corpo de arco-íris '' e, tal como Dudjom Rinpoche costumava dizer, não se trata apenas de histórias antigas. Entre os muitos exemplos, gostaria de escolher um dos mais recentes e famosos, com o qual tenho uma ligação pessoal, ocorrido em 1952 em Timor-Leste e testemunhado por muita gente. O homem que o conseguiu, Sogam Namgyal, era o pai do meu tutor e irmão do lama Tsetsen, cuja morte descrevi ao princípio deste livro. Era um homem muito simples e humilde, que ganhava a vida como escultor de pedra itinerante, gravando mantras e textos sagrados. Alguns dizem que na juventude fora caçador e que recebera os ensinamentos de um grande mestre, mas na realidade, ninguém sabia que se tratava de um praticante, daqueles que designamos por « ocultos «. Algum tempo antes da sua morte era visto a subir as montanhas, onde se sentava recortado contra o céu, olhando para o espaço, e compunha as suas próprias canções e cânticos, que entoava em substituição dos tradicionais. Ninguém fazia ideia do que ele andava a fazer, até que um dia adoeceu ou pareceu adoecer, e, por estranho que possa parecer, mostrou-se cada vez mais feliz. Quando a doença se agravou, a família chamou mestres e médicos, e o filho disse-lhe que não se esqueceria dos seus ensinamentos, mas Namgyal sorriu e respondeu: '' Já os esqueci a todos e, de qualquer modo, não há nada para recordar. Tudo é ilusão mas estou confiante de que tudo correrá bem ''. Um pouco antes da sua morte, aos setenta e nove anos, afirmou: '' Tudo o que peço é que, quando eu morrer, não toquem no meu corpo durante uma semana ''. Quando faleceu, a família enrolou-lhe o corpo em panos e convidou monges e lamas a praticarem por ele. Colocaram o corpo numa divisão da casa e não puderam deixar de notar que, apesar de Namgyal ter sido uma pessoa alta e forte, não tiveram qualquer problema para o pôr nesse quarto, era como se o corpo tivesse encolhido. Ao mesmo tempo, foi vista por toda a casa uma extraordinária exibição de luz, com as cores do arco-íris. Ao sexto dia, quando o olharam, verificaram que o corpo se tornava cada vez mais pequeno, e ao oitavo, na manhã em que deveria realizar-se o funeral, chegaram os homens para levarem o corpo, mas ao desenrolarem os panos encontraram apenas dentro destes as unhas e os cabelos.
O meu mestre Jamyang Khyentse pediu que lhos enviassem e confirmou que se tratava de um caso de « corpo de arco-íris ''.
Sogyal Rinpoche '' O livro Tibetano da vida e da morte, cap.X '' o corpo de arco-íris ''.
Jamyang Khyentse Chokyi Lodro
sábado, 13 de outubro de 2012
Evola e a Tradição
'' Enquanto ' transcendência imanente ' o tradere, a transmissão (logo, a Tradição) não se refere a uma abstracção que se possa contemplar, mas a uma energia que, apesar de invisível não deixa de ser real. É aos chefes e à elite que cabe assegurar essa transmissão, no interior de certos quadros institucionais, variáveis mas homólogos na sua finalidade. É evidente que esta se encontra perfeitamente garantida enquanto é paralela à continuidade rigorosamente controlada de um mesmo sangue. De facto, quando a cadeia de transmissão se interrompe é muito difícil restabelecê-la. Que a Tradição seja o oposto de tudo o que é democracia, igualitarismo, primado da sociedade sobre o Estado, poder que vem de baixo, etc., é inútil sublinhá-lo. ''
(Julius Evola, '' O Arco e a Clava, 1968)
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Segredos dos séculos
Segredos dos séculos
Jaz além um guerreiro
Sangue derramado em vão?
Que segredos se escondem
Nos confins dos séculos?
Perderam-se talvez
No brandir das espadas
No erguer dos escudos
E no galope dos cavalos
Na fúria indomável
Dos que combateram
Nos prantos e clamores
Dos muitos que caíram
No orgulho dos vencedores
E nos rostos dos vencidos
Na prosa dos historiadores
Ou nos versos dos poetas
Nas páginas em branco
Que ficaram por escrever...
Na nossa memória o passado
Tempos e lugares distantes
A continuidade do presente
E o futuro por forjar.
N. Afonso, 25.09.2012
Jaz além um guerreiro
Sangue derramado em vão?
Que segredos se escondem
Nos confins dos séculos?
Perderam-se talvez
No brandir das espadas
No erguer dos escudos
E no galope dos cavalos
Na fúria indomável
Dos que combateram
Nos prantos e clamores
Dos muitos que caíram
No orgulho dos vencedores
E nos rostos dos vencidos
Na prosa dos historiadores
Ou nos versos dos poetas
Nas páginas em branco
Que ficaram por escrever...
Na nossa memória o passado
Tempos e lugares distantes
A continuidade do presente
E o futuro por forjar.
N. Afonso, 25.09.2012
terça-feira, 9 de outubro de 2012
F. Pessoa e a incompreensão pelo silêncio
'' Não sei o que diga. Pertenço à raça dos navegadores e dos criadores de impérios. Se falar como sou não sou entendido, porque não tenho Portugueses que me escutem. Não falamos eu e os que me são meus compatriotas uma linguagem comum. Calo. Falar seria não me compreenderem. Prefiro a incompreensão pelo silêncio. '' (Fernando Pessoa/Bernardo Soares, Livro do desassossego).
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Soneto cósmico
Soneto cósmico
O mundo é plural e distinto
Multiforme e complexo
É Um no Todo
E o Todo é Um
Estrelas e planetas
Asteróides e cometas
Galáxias e constelações
Respostas e interrogações
O Tempo é uma espiral
O Espaço tem as suas dimensões
Brilham relâmpagos, ribombam trovões
E nesta imensidão nua
Há luas para além da Lua
E sóis para além do Sol.
N. Afonso, 17/08/2012
O mundo é plural e distinto
Multiforme e complexo
É Um no Todo
E o Todo é Um
Estrelas e planetas
Asteróides e cometas
Galáxias e constelações
Respostas e interrogações
O Tempo é uma espiral
O Espaço tem as suas dimensões
Brilham relâmpagos, ribombam trovões
E nesta imensidão nua
Há luas para além da Lua
E sóis para além do Sol.
N. Afonso, 17/08/2012
sábado, 15 de setembro de 2012
Erosão e união
Erosão e união
Picam como cactos
Nas tuas mãos
As palavras ditas
E os gestos disfarçados
As linhas escritas
E os longos silêncios
Congelados por nós
Num ápice revelados
O receptáculo da dor
Essa tua pele fria
Agora enrugada
Pela erosão do tempo
A vida e a morte
Consumidas pela mesma chama
O hoje e o amanhã
Fundidos num só momento
O dia e a noite entrelaçados
O céu e a terra casados
Não olhes para trás
Ou ainda te convertes
Numa estátua de sal
N. Afonso, 13.09.2012
Picam como cactos
Nas tuas mãos
As palavras ditas
E os gestos disfarçados
As linhas escritas
E os longos silêncios
Congelados por nós
Num ápice revelados
O receptáculo da dor
Essa tua pele fria
Agora enrugada
Pela erosão do tempo
A vida e a morte
Consumidas pela mesma chama
O hoje e o amanhã
Fundidos num só momento
O dia e a noite entrelaçados
O céu e a terra casados
Não olhes para trás
Ou ainda te convertes
Numa estátua de sal
N. Afonso, 13.09.2012
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
O simbolismo do coração
O Coração Irradiante e o Coração Ardente, por René Guénon
'' Ao nos referirmos a propósito da ''luz e da chuva'', às representações do Sol com raios alternadamente rectilíneos e ondulados, mencionámos que as duas espécies de raios se encontram também, de modo muito semelhante, em certas figurações simbólicas do coração. Um dos exemplos mais interessantes é o do coração figurando sobre um pequeno baixo-relevo de mármore negro, que data aparentemente do século XVI e provém do Convento Cartuxo de Saint-Denis d'Orques, tendo sido estudado por L. Charbonneau-Lassay.(1) Esse coração irradiante está colocado no centro de dois círculos sobre os quais se encontram respectivamente os planetas e os signos do Zodíaco o que o caracteriza de forma evidente com o «Centro do mundo«, sob a dupla relação do simbolismo espacial e do simbolismo temporal.(2) Essa figuração é evidentemnte ''solar'', mas no entanto, o facto de que o Sol, entendido no sentido ''físico'', encontra-se colocado no círculo planetário, tal como deve estar normalmente no simbolismo astrológico, mostra muito bem que se trata nesse caso do ''Sol espiritual''.
Vale a pena lembrar que a assimilação do Sol ao coração, na medida em que ambos têm igual significação ''central'', é comum a todas as doutrinas tradicionais, no Ocidente e no Oriente. Proclo, por exemplo, assim fala ao se dirigir ao Sol: ''Ocupando acima do éter o trono do meio, e tendo por imagem um círculo deslumbrante, que é o Coração do Mundo, tu preenches a tudo com uma providência pronta a despertar a inteligência.(3) Citamos de preferência esse texto, ao invés de muitos outros, em virtude da menção formal que se faz à inteligência. E, tal como já explicámos em muitas oportunidades, o coração é considerado também, antes de mais nada, em todas as tradições, como a sede da inteligência.(4) Aliás, segundo Macróbio, ''O nome Inteligência do Mundo que se dá ao Sol corresponde ao de Coração do Céu'';(5) fonte da luz etérea, o Sol é para esse fluído o que o coração é para o ser animado.(6) Plutarco, ainda, escreveu que o Sol, ''tendo a força de um coração, espalha e emite de si o calor e a luz, como se fosse o sangue e o sopro.(7) Encontramos nessa última passagem, tanto para o coração como para o Sol, a indicação do calor e da luz, que correspondem às duas espécies de raios que considerávamos. E se o ''sopro'' está aí relacionado à luz, é porque na verdade se constitui no símbolo do espírito, que é em essência a mesma coisa que a inteligência. Quanto ao sangue, é evidentemente o veículo do ''calor vivificante'', o que se refere mais em particular ao papel ''vital'' do princípio que é o centro do ser.(8)
Em certos casos, a figuração do coração dispõe de apenas um desses dois aspectos: a luz é naturalmente representada por uma irradiação de tipo comum, isto é, formada apenas de raios rectilíneos, enquanto que o calor é representado, de hábito, por chamas que saem do coração. Podemos além disso observar que a irradiação, mesmo quando os dois aspectos estão reunidos, parece sugerir, de modo geral, uma reconhecida preponderância ao aspecto luminoso. Essa interpretação é confirmada pelo facto de que as representações do coração irradiante, com ou sem distinção das duas espécies de raios, são as mais antigas, datando na maioria dos casos de épocas em que a inteligência era ainda tradicionalmente referida ao coração, enquanto que as representações do coração ardente se difundiram sobretudo com as ideias modernas que reduzem o coração a corresponder apenas ao sentimento.(9) E sabemos que, de facto, quase se chegou ao ponto de dar apenas este último significado ao coração, e de se esquecer inteiramente a sua relação com a inteligência. A origem desse desvio pode sem dúvida ser atribuída em grande parte ao racionalismo, na medida em que este pretende identificar pura e simplesmente a inteligência à razão; porém o coração nato está de modo algum relacionado à razão, mas sim ao intelecto transcendente, que no entanto, precisamente, é ignorado e mesmo negado pelo racionalismo. Na verdade, porém, a partir do momento em que o coração passa a ser considerado como o centro do ser, todas as modalidade desse ser podem num certo sentido ser referidas, ao menos indirectamente, ao próprio coração, inclusive o sentimento ou o que os psicólogos denominam ''afectividade''; isso torna possível ainda observar as relações hierárquicas que decorrem do facto de apenas o intelecto ser verdadeiramente ''central'' e das demais modalidades só terem um carácter mais ou menos ''periférico''. No entanto, na medida em que a intuição intelectual que reside no coração passa a ser desconhecida,(10) e tem a sua função ''iluminadora'' (11) usurpada pelo cérebro, nada mais resta ao coração que a possibilidade de ser considerado como a sede da afectividade. (12) Além disso, o mundo moderno deveria ver nascer ainda, como uma espécie de contrapartida do racionalismo, o que se poderia denominar de sentimentalismo, ou seja, a tendência de ver no sentimento o que há de mais profundo e mais elevado no ser, e de afirmar a sua supremacia sobre a inteligência. E é evidente que tal coisa, como tudo que na realidade constitui a exaltação do 'infra-racional'', só pôde produzir-se porque a inteligência tinha sido previamente reduzida à razão pura e simples.
Agora, se deixarmos de lado o desvio moderno que acabámos de indicar e quisermos, dentro dos seus legítimos limites, estabelecer uma certa relação do coração com a afectividade, deveremos considerar tal relação como resultado directo do papel do coração como ''centro vital'' e sede do ''calor vivificante'', ficando assim a vida e a afectividade coisas muito próximas entre si, ou mesmo inteiramente conexas, enquanto a relação com a inteligência é por certo de uma ordem muito diferente. Quanto ao mais, essa estreita relação entre a vida e a afectividade está expressa de maneira clara pelo próprio simbolismo, visto serem ambas, representadas sob o aspecto de ''calor''. (13) E é em virtude dessa mesma assimilação que, embora de uma forma muito pouco consciente, fala-se habitualmente na linguagem comum do calor do sentimento ou da afeição. (14) É preciso ainda notar a esse respeito que, quando o fogo se polariza nos seus dois aspectos complementares, a luz e o calor, estes, na sua manifestação, encontram-se por assim dizer, em razão inversa entre si. Sabemos, mesmo do ponto de vista da física, que uma chama é de facto tanto mais quente quanto menos ilumina. Do mesmo modo, o sentimento só é na verdade um calor sem luz. (15) Também no homem pode ser encontrada uma luz sem calor, como a razão, que é uma luz reflectida, fria como a luz lunar que a simboliza. Na ordem dos princípios, pelo contrário, os dois aspectos, como todos os complementares, estão juntos e unidos indissoluvelmente, pois sao constitutivos de uma mesma natureza essencial. É o que acontece também com o que diz respeito à inteligência pura, que pertence exactamente a essa ordem dos princípios, o que vem confirmar mais uma vez, como indicámos antes, que a irradiação simbólica sob a sua dupla forma pode ser-lhe integralmente vinculada. O fogo que reside no centro do ser é luz e calor ao mesmo tempo. Mas, se quisermos traduzir esses dois termos respectivamente por inteligência e amor, ainda que sejam no fundo dois aspectos inseparáveis de uma única coisa, será necessário para que essa tradução se torne aceitável e legítima, acrescentar que o amor em questão difere do sentimento ao qual se dá o mesmo nome, na mesma proporção em que a inteligência pura difere da razão.
Pode-se compreender facilmente, com efeito, que certos termos tomados da afectividade sejam, como tantos outros, passíveis de serem transportados analogicamente para uma ordem superior, pois todas as coisas têm de facto, além do seu sentido imediato e literal, um valor de símbolos em relação a realidades mais profundas. E é evidente que isso também ocorre, em particular, todas as vezes em que se trata do amor nas doutrinas tradicionais. Entre os próprios místicos, apesar de certas confusões invitáveis, a linguagem afectiva aparece sobretudo como um modo de expressão simbólica, pois, seja qual for entre eles a parte incontestável do sentimento no sentido usual dessa palavra, é no entanto inadmissível, apesar do que pretendem os psicólogos modernos, que não exista aí mais que emoções e afeições puramente humanas atribuídas, enquanto tais, a um objecto supra-humano. Entretanto, a transposição torna-se ainda muito mais evidente quando se constata que as aplicações tradicionais da ideia de amor não se limitam ao domínio exotérico e sobretudo religioso, mas estendem-se também ao domínio esotérico e iniciático. É o que ocorre em particular com os inúmeros ramos ou escolas do esoterismo islâmico e também com certas doutrinas da Idade Média Ocidental, em especial nas tradições próprias das Ordens da cavalaria(16), bem como na doutrina iniciática, aliás conexa, que encontra a sua expressão em Dante e nos ''Fiéis de Amor''. Podemos acrescentar que a distinção entre a inteligência e o amor, assim entendida, tem a sua correspondência na tradição hindu com a distinção entre Jnâna-marga (caminho do conhecimento) e Bhakti-marga (caminho da devoção). A referência que acabámos de fazer às Ordens da cavalaria indica, além do mais, que o caminho do amor é em particular mais apropriado aos kshatryias (guerreiros), enquanto o caminho da inteligência ou do conhecimento é naturalmente aquele que convém sobretudo aos brâmanes. Mas, em suma, trata-se de uma diferença que apenas se aplica à forma de considerar o Princípio, de acordo com a própria diferença das naturezas individuais, mas que não poderia de forma alguma afectar a indivisível unidade do próprio Princípio.''
(Publicado na revista Études Traditionnelles, Junho-Julho de 1946)
NOTAS:
1. Le Marbre astronomique de Saint-Denis d'Orques, na Regnabit, fev. 1924, [republicado no livro Le Bestiaire du Christ, cap X]. Esta gravura está reproduzida acima, ao lado do título deste estudo.
2. Existem também, na mesma figura, outros detalhes de grande importância do ponto de vista simbólico: assim, em especial, o coração tem uma chaga, ou alguma coisa com a aparência exterior de uma chaga, com forma de ura iod hebraico, o que se refere ao mesmo tempo ao "Olho do coração" e ao "germe" do avatar que reside no "centro", quer seja este entendido no sentido macrocósmico ( o que é aqui claramente o caso) ou no sentido microcósmico (v. Aperçus sur l’Iniciation, cap. XLVIII).
3. Hymne au Soleil, trad. de Mario Meunier.
4) É claro (e voltaremos a isso mais adiante) que se trata aqui da inteligência pura, no sentido universal, e não da razão, que é o simples reflexo dela na ordem individual e está relacionada ao cérebro; no ser humano, o cérebro está para o coração em relação análoga a que, no mundo, a Lua está para o Sol.
5) A expressão "Coração do Céu", aplicada ao Sol encontra-se também nas antigas tradições da América Central.
6) O Sonho de Cipião, 1,20.
7) Da face que se vê no círculo da Lua, 15,4. Esse texto e o precedente são citados em nota pelo tradutor a propósito da passagem de Proclo que acabamos de reproduzir.
8) Aristóteles assimila a vida orgânica ao calor, no que está de acordo com todas as doutrinas orientais. O próprio Descartes coloca no coração um "fogo sem luz", mas que para ele é apenas o princípio de uma teoria fisiológica exclusivamente "mecanicista”, como toda sua física, o que, bem entendido, nada tem em comum com o ponto de vista tradicional dos antigos.
9) É notável a esse respeito que, em particular no simbolismo cristão, as mais antigas figurações conhecidas do Sagrado Coração pertencem todas ao tipo do coração irradiante, enquanto que naqueles que não remontam além do século XVII, encontra-se o coração ardente de uma forma constante e quase que exclusiva. Aí está um exemplo muito significativo da influência exercida pelas concepções modernas até no domínio religioso.
10) Essa intuição intelectual é exatamente simbolizada pelo "olho do coração".
11) Cf. o que dissemos em outra parte sobre o sentido racionalista dado aos "luminares" do século XVIII, em especial na Alemanha, e sobre a significação correspondente da denominação Iluminados da Baviera
(Aperçus sur l'Initiation, cap. XII).
12) É assim que Pascal, contemporâneo dos inícios do racionalismo propriamente dito, já entende “coração” no sentido exclusivo de “sentimento”.
13. Trata-se aqui, naturalmente, da vida orgânica em sua acepção mais literal, e não do sentido superior no qual a vida, ao contrário, está em relação com a luz, tal como se vê em especial no início do Evangelho de São João (cf. Aperçus sur 1'Initiation, cap. XLVII).
14. Entre os modernos, considera-se também com grande freqüência que o coração ardente representa o amor, não só o amor no sentido religioso, mas também no sentido puramente humano. Era essa a representação corrente, sobretudo no século XVIII.
15. É por isso que os antigos representavam o amor como sendo cego.
16. Sabe-se que a base principal dessas tradições era o Evangelho de São João: "Deus é Amor”, o que seguramente só pode ser compreendido pela transposição do que falamos; e o grito de guerra dos Templários era: “Viva Deus Santo Amor”.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Buda sobre a ilusão do real
'' Sabei que todas as coisas são assim:
Uma miragem, um castelo de nuvens,
Um sonho, uma aparição,
Sem essência mas com qualidades que podem ser vistas.
Sabei que todas as coisas são assim:
Com a Lua num céu brilhante,
Num límpido lago reflectida.
Porém, para o lago, a Lua nunca se moveu.
Sabei que todas as coisas são assim:
São como um eco que provém
Da música dos sons, dos choros.
Porém esse eco não tem uma melodia.
Sabei que todas as coisas são assim:
Tal como um mágico faz ilusões
De cavalos, bois, carros e outras coisas,
Nada é aquilo que parece.
Buda, «Samadhirajasutra«, citado in «Ancient futures: Learning from Ladakh«, de Helena Norbert-Hodge.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Nunca é tarde
Nunca é tarde
É noite e tudo arde
Espelhos de mil cores
Deslizam a teus pés
As imagens desvanecem-se
Os conceitos são reduzidos a pó
A glória pesa como chumbo
A vingança é uma seta
Apontada ao teu coração
Espreitas pelo buraco da fechadura
E sais de casa à pressa
Lá fora a chuva cai
Solene e persistente
Sodoma e Gomorra
Mesmo ali ao lado
Marcham as hordas de Gog e Magog
Cinzas e ossos, já nada resta...
Ergues os braços ao céu
Suspiras pelo fim mas em vão
Ouves o murmúrio das ondas
E depois o som das trombetas
Nunca é tarde
Para começar
Quando o presente
É agora e sempre.
N. Afonso, 28.08.2012
É noite e tudo arde
Espelhos de mil cores
Deslizam a teus pés
As imagens desvanecem-se
Os conceitos são reduzidos a pó
A glória pesa como chumbo
A vingança é uma seta
Apontada ao teu coração
Espreitas pelo buraco da fechadura
E sais de casa à pressa
Lá fora a chuva cai
Solene e persistente
Sodoma e Gomorra
Mesmo ali ao lado
Marcham as hordas de Gog e Magog
Cinzas e ossos, já nada resta...
Ergues os braços ao céu
Suspiras pelo fim mas em vão
Ouves o murmúrio das ondas
E depois o som das trombetas
Nunca é tarde
Para começar
Quando o presente
É agora e sempre.
N. Afonso, 28.08.2012
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Espaço e tempo para além de mim
'' Poderá existir espaço e tempo para além de mim?
O tempo e o espaço apenas me prendem se eu for um corpo,
Eu não estou em parte alguma, eu sou perpétuo,
Eu existo em toda a parte e para a eternidade ''
Ramana Maharsi (1870-1950)
domingo, 22 de julho de 2012
Do exílio
Exilados
Somos exilados
Na nossa própria terra
Não existe pátria
Nação ou povo
Tudo é global e disperso
A identidade dilui-se
Neste emaranhado caótico
De multidões anónimas urbanas
O Estado é inimigo
O luar um abrigo
Nossas mentes e corações
Unidos não pelos cifrões
Sobre os escombros da cidade
Construiremos a liberdade
Juntos e rejuvenescidos
Pela vitória fortalecidos
N. Afonso, 19.07.2012
Somos exilados
Na nossa própria terra
Não existe pátria
Nação ou povo
Tudo é global e disperso
A identidade dilui-se
Neste emaranhado caótico
De multidões anónimas urbanas
O Estado é inimigo
O luar um abrigo
Nossas mentes e corações
Unidos não pelos cifrões
Sobre os escombros da cidade
Construiremos a liberdade
Juntos e rejuvenescidos
Pela vitória fortalecidos
N. Afonso, 19.07.2012
sábado, 21 de julho de 2012
Fim do Kali Yuga, o Kalki Avatara e o nascer de uma nova Era
Kalki
(Tradução minha a partir do Inglês)
'' E quando esses tempos terríveis terminarem, a criação começará novamente. E os homens serão novamente criados e distribuídos pelas quatro ordens, começando pelos Brâmanes. E nesse tempo, de modo a que os homens possam aumentar, a Providência, a seu gosto, tornar-se-á uma vez mais favorável. E então quando o Sol, a Lua e Vrihaspati, irão, com a constelação Pushya* entrar no mesmo signo, a Era de Krita** começará de novo. E as nuvens começarão a deitar água no momento oportuno e as estrelas e conjunções estrelares tornar-se-ão auspiciosas. E os planetas, girando correctamente nas suas órbitas, tornar-se-ão muitíssimo favoráveis. E por toda a parte haverá prosperidade e abundância e sáude e paz. E autorizado pelo Tempo, um Brâmane de nome Kalki virá ao mundo. Glorificará Vishnu e possuirá grande energia, grande inteligência e grande bravura. E nascerá numa cidade chamada Shambhala numa feliz família Brâmane. E armas e veículos, armamentos e guerreiros e cotas de malha estarão à sua disposição assim que pense neles. E ele será o rei dos reis, sempre vitorioso pela força da virtude. E restaurará a paz e a ordem neste mundo repleto de criaturas e contraditório no seu curso. E esse Brâmane flamejante de intelecto poderoso, havendo aparecido, destruirá todas as coisas. E ele será o destruidor de tudo e inaugurará uma nova Era. E rodeado pelos Brâmanes, esse Brâmane exterminará todos os bárbaros onde quer que essas vis e desprezíveis pessoas possam obter refúgio. ''
Notas: Pushya*- Oitavo asterismo lunar, consiste de três estrelas, sendo uma delas Capricórnio;
Krita**- Krita Yuga ou Satya Yuga é o nome da Idade de Ouro na tradição hindu.
Mahabharata, Livro 3: Vana Parva: Markandeya-Samasya Parva, Secção CLXXXIX, traduzido por Kisari Mohan Ganguli
Notas: Pushya*- Oitavo asterismo lunar, consiste de três estrelas, sendo uma delas Capricórnio;
Krita**- Krita Yuga ou Satya Yuga é o nome da Idade de Ouro na tradição hindu.
Mahabharata, Livro 3: Vana Parva: Markandeya-Samasya Parva, Secção CLXXXIX, traduzido por Kisari Mohan Ganguli
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Os sinais do fim do Kali Yuga segundo o Mahabharata
(Tradução minha a partir do Inglês)
'' Tudo isto acontecerá no fim do Yuga e sabe que estes são os sinais do fim do Yuga. E quando o homem se tornar feroz e destituído de virtude e carnívoro e viciado em bebidas tóxicas, então o Yuga chega ao fim. E, ó Monarca, quando as flores forem geradas dentro das flores e os frutos dentro dos frutos, então o Yuga chegará ao fim. E as nuvens despejarão água despropositadamente quando se aproximar o fim do Yuga. E, nessa altura, os ritos dos homens não se seguirão uns aos outros pela ordem correcta e os Sudras brigarão com os Brâmanes. E em breve a terra estará cheia de forasteiros e os Brâmanes correrão em todas as direcções temendo o peso dos impostos. E cessarão todas as distinções entre os homens, tais como as relativas à conduta e ao comportamento e, aflitos com tarefas e serviços honrosos, as pessoas fugirão para retiros nas florestas, subsistindo de frutos e raízes. E o mundo estará tão aflito que a conduta recta deixará de aparecer onde quer que seja. E os discípulos desprezarão as instruções dos mestres e tentarão até injuriá-los. E os mestres empobrecidos serão menosprezados pelos homens. E os amigos e parentes realizarão serviços agradáveis apenas pela riqueza que uma pessoa possua. E quando o fim do Yuga chegar todos estarão em falta. E todos os pontos do horizonte estarão em chamas e as estrelas e constelações não brilharão e os planetas e conjunções planetárias não serão auspiciosos. E o curso dos ventos será confuso e agitado e inúmeros meteoros brilharão no céu, pressagiando o mal. E o Sol aparecerá com com seis outros da mesma espécie. E tudo em redor será estrondo e tumulto e por toda a parte haverá conflagrações. E o Sol, desde que nasce até que se põe, será envolvido por Rahu. E a divindade de mil olhos derramará chuva intempestivamente. E quando o fim do Yuga chegar as colheitas serão escassas. E as mulheres estarão sempre de língua afiada, impiedosas e choramingonas. E elas nunca suportarão as ordens dos seus maridos. E quando o fim do Yuga chegar os filhos assassinarão os pais e mães. E as mulheres, vivendo descontroladamente, matarão também os seus maridos e filhos. E, ó Rei, quando o fim do Yuga chegar, Rahu engolirá o Sol despropositadamente. E haverá chamas por toda a parte. E viajantes incapazes de obter comida, bebida e abrigo, mesmo quando peçam, deitar-se-ão à beira da estrada. E quando o fim do Yuga chegar, corvos, serpentes, abutres e milhafres e outros animais e aves emitirão gemidos assustadores e dissonantes. E quando o fim do Yuga chegar, os homens abandonarão e negligenciarão os seus amigos, parentes e subordinados. E, ó Monarca, quando o fim do Yuga chegar, os homens que abandonarem os países, cidades e vilas que ocupavam, buscarão outros novos, um após outro. E as pessoas vaguearão pela terra, proferindo ' ó pai, ó filho' e outros gemidos dilacerantes e assustadores.''
(Mahabharata, Livro 3: Vana Parva: Markandeya-Samasya Parva, Secção CLXXXIX, traduzido por Kisari Mohan Ganguli)
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Síntese dos contrários
Síntese dos contrários
Há um caminho
Para sair do labirinto
E algo que está para além
Do espaço e do tempo
Há uma saída
No fim da estrada
E uma ponte
A ligar os mundos
Há água pura
Em pleno deserto
E uma luz que brilha
Na escuridão
Mas é cedo para partir
E tarde para ficar
Fria a noite para sair
Quente o dia para esperar
Abre a porta que se fecha
Fecha a janela que se abre
Supera a mágoa que aparece
Segura a mão que estremece
Lembra a hora de actuar
Esquece o dia de parar
Esconde a fraqueza que mata
Revela a força que vence
N. Afonso, 16/07/2012
Há um caminho
Para sair do labirinto
E algo que está para além
Do espaço e do tempo
Há uma saída
No fim da estrada
E uma ponte
A ligar os mundos
Há água pura
Em pleno deserto
E uma luz que brilha
Na escuridão
Mas é cedo para partir
E tarde para ficar
Fria a noite para sair
Quente o dia para esperar
Abre a porta que se fecha
Fecha a janela que se abre
Supera a mágoa que aparece
Segura a mão que estremece
Lembra a hora de actuar
Esquece o dia de parar
Esconde a fraqueza que mata
Revela a força que vence
N. Afonso, 16/07/2012
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