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quinta-feira, 8 de maio de 2014
terça-feira, 6 de maio de 2014
Primavera
'' Não são as cores variegadas, os tons graciosos e o ar macio o que tanto nos entusiasma na Primavera. É o tranquilo espírito vaticinador de infinitas esperanças, um pressentimento de muitos dias felizes, da próspera existência de tão diversas naturezas, a suspeita de sublimes florações e frutos eternos e a obscura simpatia para com o mundo social que se desdobra''.
Novalis, in« Fragmentos de Novalis«, tradução de Rui Chafes, Ed.Assírio&Alvim
terça-feira, 29 de abril de 2014
Soneto da neve fria
Soneto da neve fria
Pões as mãos na neve fria
Ela é pura, dura, inclemente
Se a alvorada é escura
Por certo não te alumia
Até que o Sol te desmente
Quando transforma esse escuro dia
Num outro solarengo e altivo
Dessa manhã não mais ficas cativo
Porque as Trevas foram
Dissipadas pela Luz
E agora já não te seduz
Esse sombrio amanhecer
Mas sim uma nova noite
Que irá um novo dia anteceder.
Artur Granja/N.Afonso
Pões as mãos na neve fria
Ela é pura, dura, inclemente
Se a alvorada é escura
Por certo não te alumia
Até que o Sol te desmente
Quando transforma esse escuro dia
Num outro solarengo e altivo
Dessa manhã não mais ficas cativo
Porque as Trevas foram
Dissipadas pela Luz
E agora já não te seduz
Esse sombrio amanhecer
Mas sim uma nova noite
Que irá um novo dia anteceder.
Artur Granja/N.Afonso
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Em mim vês a estação em que se inclina
Em mim vês a estação em que se inclina
''Em mim vês a estação que se inclina
a folhagem sem cor, já pouca, em ramos,
lá onde os frios claustros são ruína
e os pássaros tardios escutamos.
Em mim vês lusco-fusco de tal dia,
quando a oeste o sol se queda mudo
e a noite a pouco e pouco o abrevia,
segundo ser da morte a selar tudo.
Em mim vês que esse fogo bruxuleia,
cinza da juventude que caiu,
como o leito de morte em que se alheia,
onde o consome o que antes o nutriu.
Isto vês, para amar mais te fazer
amar bem o que em breve vais perder.''
(William Shakespeare, tradução de Vasco Graça Moura)
''Em mim vês a estação que se inclina
a folhagem sem cor, já pouca, em ramos,
lá onde os frios claustros são ruína
e os pássaros tardios escutamos.
Em mim vês lusco-fusco de tal dia,
quando a oeste o sol se queda mudo
e a noite a pouco e pouco o abrevia,
segundo ser da morte a selar tudo.
Em mim vês que esse fogo bruxuleia,
cinza da juventude que caiu,
como o leito de morte em que se alheia,
onde o consome o que antes o nutriu.
Isto vês, para amar mais te fazer
amar bem o que em breve vais perder.''
(William Shakespeare, tradução de Vasco Graça Moura)
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Oráculo
'' O oráculo
trespassa tudo,
o fim
é o reflexo do princípio.
Como se
um espelho
tivesse duas caras
e ambas vissem.
Na intersecção dos distantes
evidencia-se
o enigma.''
(Ernst Meister)
terça-feira, 8 de abril de 2014
domingo, 16 de março de 2014
Post-Scriptum
Post-Scriptum
Quem sou?
De onde venho?
Eu sou o Antonin Artaud,
e se o disser
como sei dizê-lo,
imediatamente
vereis o meu corpo actual
voar em estilhaços
e refazer
com dez mil aspectos
notórios
um corpo novo
onde não podereis
nunca mais
esquecer-me.
A. Artaud, «Post-Scriptum», in '' Eu, Antonin Artaud'', Assírio&Alvim, 2007
domingo, 9 de março de 2014
Defesa dos lobos contra os cordeiros
Quereis que os abutres devorem miosótis?
do chacal que coisa pretendeis,
que se despoje de sua pele, e do lobo:
deve arrancar por si mesmo os dentes?
o que vos desgosta tanto
de comissários e pontífices?
o que mirais boquiabertos
na mentirosa tela do televisor?
quem cose ao marechal
a franja de sangue nas calças?
quem amarra o capão para o usurário?
quem se enforca orgulhoso do umbigo amuado
dessas cruzes de lata? quem
quem colhe a propina, a moeda de prata,
o óbolo do silêncio?
do chacal que coisa pretendeis,
que se despoje de sua pele, e do lobo:
deve arrancar por si mesmo os dentes?
o que vos desgosta tanto
de comissários e pontífices?
o que mirais boquiabertos
na mentirosa tela do televisor?
quem cose ao marechal
a franja de sangue nas calças?
quem amarra o capão para o usurário?
quem se enforca orgulhoso do umbigo amuado
dessas cruzes de lata? quem
quem colhe a propina, a moeda de prata,
o óbolo do silêncio?
muitos são os enganados e poucos os ladrões.
mas, quem os aplaude? quem
os condecora e distingue? quem
está faminto de mentiras?
contemplai-vos ao espelho: covardes
que vos assusta a verdade fastidiosa
e vos repugna aprender
e encomendais aos lobos a função de pensar.
um anel no nariz é a vossa jóia predilecta.
para vós nenhum engano é suficientemente estúpido,
nenhum conselho demasiado barato,
nenhuma chantagem demasiado branda.
comparado a vós, cordeiros
que mutuamente encegueceis
são fraternais os corvos.
entre os lobos reina a irmandade:
vão sempre em matilhas.
abençoados sejam os ladrões: vós
convidando-os à violação,
os deitais nas vírgulas apodrecidas
da obediência, e mentis
enquanto choramingam. o que desejais
é que vos devorem. vós
não ireis mudar o mundo.
mas, quem os aplaude? quem
os condecora e distingue? quem
está faminto de mentiras?
contemplai-vos ao espelho: covardes
que vos assusta a verdade fastidiosa
e vos repugna aprender
e encomendais aos lobos a função de pensar.
um anel no nariz é a vossa jóia predilecta.
para vós nenhum engano é suficientemente estúpido,
nenhum conselho demasiado barato,
nenhuma chantagem demasiado branda.
comparado a vós, cordeiros
que mutuamente encegueceis
são fraternais os corvos.
entre os lobos reina a irmandade:
vão sempre em matilhas.
abençoados sejam os ladrões: vós
convidando-os à violação,
os deitais nas vírgulas apodrecidas
da obediência, e mentis
enquanto choramingam. o que desejais
é que vos devorem. vós
não ireis mudar o mundo.
Hans Magnus Enzensberger
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Encontrar a palavra certa
Epigrama
''Podes passar uma vida inteira
acompanhado de palavras
sem que encontres a adequada.
Tal como um pobre peixe
embrulhado num jornal húngaro:
Primeiro, estás morto,
segundo, não entendes húngaro.''
Niels Hav
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Rosa mutável
Rosa mutável
''Ao abrir pela manhã
rubra como sangue está.
O orvalho não a toca
com medo de se queimar.
Aberta à luz do meio-dia
é dura como um coral.
O sol assoma nos vidros
só para a ver fulgurar.
quando nos ramos começam
os pássaros a cantar
e quando a tarde desmaia
nas violetas do mar,
torna-se branca, tão branca
como uma face de sal.
E logo que a noite toca
brando corno de metal
e as estrelas avançam
enquanto se esconde o ar,
no risco fino da sombra
começa-se a desfolhar.''
(Federico García Lorca, 'Poemas', Assírio&Alvim, Lisboa, 2013)
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Os memoráveis lugares do sonho
Os memoráveis lugares do sonho
O crocitar dos corvos
Rompe o silêncio sepulcral
E a mística boda alquímica,
A união perpétua do Sol e da Lua,
Está já consumada.
Juntam-se os pólos opostos
Na imensa comunhão divina,
Onde não cessa a celestial melodia
Virá porventura alguém acordar
Os aflitos que dormem
Ou os vencidos que alastram
Pelos campos intactos
Da imaculada solidão?
A névoa cobre tudo:
Sonhos e pretensão
Ora! Não terminou ainda
A procissão dos últimos
Nem o hastear das bandeiras
Que ondulam sobre os penedos
Haja aí um querer,
Além onde soçobram as multidões,
Impelido pelo triunfante vôo das águias
Que vêem onde mais ninguém vê
E se empoleiram onde ninguém
Ousa algum dia repousar.
N. Afonso
O crocitar dos corvos
Rompe o silêncio sepulcral
E a mística boda alquímica,
A união perpétua do Sol e da Lua,
Está já consumada.
Juntam-se os pólos opostos
Na imensa comunhão divina,
Onde não cessa a celestial melodia
Virá porventura alguém acordar
Os aflitos que dormem
Ou os vencidos que alastram
Pelos campos intactos
Da imaculada solidão?
A névoa cobre tudo:
Sonhos e pretensão
Ora! Não terminou ainda
A procissão dos últimos
Nem o hastear das bandeiras
Que ondulam sobre os penedos
Haja aí um querer,
Além onde soçobram as multidões,
Impelido pelo triunfante vôo das águias
Que vêem onde mais ninguém vê
E se empoleiram onde ninguém
Ousa algum dia repousar.
N. Afonso
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Uma capa
Uma capa
Uma capa fiz do meu canto
Debaixo a cima
Bordada
De antigas mitologias;
Mas tomaram-na os tolos
Para exibi-la ao mundo
Como se por eles fora lavrada.
Deixa, canto, que a tomem
Pois maior feito existe
Em andar nú.
(W.B. Yeats)
Uma capa fiz do meu canto
Debaixo a cima
Bordada
De antigas mitologias;
Mas tomaram-na os tolos
Para exibi-la ao mundo
Como se por eles fora lavrada.
Deixa, canto, que a tomem
Pois maior feito existe
Em andar nú.
(W.B. Yeats)
domingo, 15 de dezembro de 2013
Sonhos e inspiração
'' O sonho é tido, já desde a mais remota antiguidade, na conta de uma forma de inspiração. É em sonhos que os deuses falam às vítimas, etc. Convém no entanto observar que os indivíduos que trataram dos seus sonhos, até estes últimos tempos, com incomparáveis cuidados, cuidados esses puros e livres de preocupações literárias ou médicas, o não fizeram com vista a estabelecerem relações com qualquer Além. Podemos dizer que ao sonharem eles se sentiram menos inspirados do que nunca. Narram com fidelidade objectiva tudo quanto se lembram nesses sonhos. Podemos até dizer o seguinte: fora da narrativa de um sonho, em nenhumas outras circunstâncias se consegue alcançar objectividade maior. Isto porque no caso vertente nada se interpõe entre a realidade e o indivíduo que dorme, como acontece no estado de vigília com aquilo a que chamamos censura, razão, etc. Mas imaginem que ao transcreverem uma tal realidade eles exprimem parvoíces dum estilo imperfeito; caso isso suceda, logo se denunciam como gente traiçoeira. Já não descrevem um sonho, fabricam literatura. Cá por mim exijo sempre que os sonhos que me dão a ler sejam escritos em língua escorreita.'' (Louis Aragon, Tratado do Estilo, Antígona, Lisboa, 1995)
domingo, 8 de dezembro de 2013
Comércio e mercadoria
''Um político que assistia a uma sessão da Câmara de Comércio pediu a palavra, mas viu a sua pretensão negada com base na alegação de nada ter a ver com o comércio.
-Senhor Presidente- disse um membro idoso, levantando-se: considero a objecção infundada. Este cavalheiro tem uma estreita e íntima relação com o comércio: ele próprio é uma mercadoria.''
(Ambrose Bierce ''Esopo emendado&outras fábulas fantásticas'', Antígona, Lisboa, 1996)
domingo, 1 de dezembro de 2013
terça-feira, 26 de novembro de 2013
sábado, 23 de novembro de 2013
Fala Maldoror
''Vi, durante toda a minha vida, sem uma única excepção, os homens, de ombros estreitos, praticarem actos estúpidos e numerosos, embrutecerem os seus semelhantes e perverterem as almas por todos os meios. Ao motivo das suas acções chamam: glória. Vendo tais espectáculos, quis rir como os outros; mas isso, bizarra imitação, era-me impossível. Peguei num canivete, cuja lâmina tinha um gume afiado, e rasguei a minha carne nos sítios onde se juntam os lábios. Por um instante, julguei que atingira o meu fim. Olhei num espelho esta boca mortificada pela minha própria vontade! Cometera um erro! O sangue que corria abundantemente das duas feridas impedia-me, aliás, de perceber se era realmente aquele o riso dos outros. Porém, após alguns momentos de comparação, dei-me conta que o meu riso não se assemelhava ao dos humanos, ou seja, que não me ria. Vi os homens, de cabeça feia e olhos terríveis afundando-se em órbitas sombrias, superarem a dureza do rochedo, a rigidez do aço fundido, a crueldade do tubarão, a insolência da juventude, o furor insensato dos criminosos, as traições do hipócrita, os actores mais extraordinários, a força de carácter dos padres, e os seres exteriormente mais dissimulados, os mais frios dos mundos e do céu; fatigarem os moralistas a descobrir o seu coração e fazerem cair sobre si a cólera implacável das alturas. Vi-os a todos ao mesmo tempo: ora com o punho mais robusto erguido para o céu , como o de uma criança, já perversa, afrontando a mãe, provavelmente animados por algum espírito infernal, com os olhos ensombrados por um remorso simultaneamente pungente e rancoroso, num silêncio glacial, não ousando exprimir as profundas e ingratas meditações encerradas no seu íntimo, de tal modo a povoavam a injustiça e o horror, e entristecendo de compaixão o Deus de misericórdia; ora, ao longo de todo o dia, desde o começo da infância até ao fim da velhice, espalhando anátemas inacreditáveis, destituídos de senso comum, contra tudo o que respira, contra si próprios e contra a Providência, prostituindo mulheres e crianças e desonrando assim as partes do corpo consagradas ao pudor. Então, os mares revoltam as águas, afundam nesses abismos as tábuas; os furacões, os tremores de terra derrubam as casas; a peste, as várias doenças dizimam as famílias devotas. Mas os homens de nada se apercebem. Vi-os também a corar, a empalidecer de vergonha devido à sua conduta neste mundo; raramente. Tempestades, irmãs dos furacões; firmamento azulado, cuja beleza não admito; mar hipócrita, imagem do meu coração; Terra, de seio misterioso; habitantes das esferas; todo o universo; Deus, que o criaste com magnificiência, é a ti que invoco: mostra-me um homem que seja bom!...Mas que a tua graça decuplique as minhas forças naturais; já que, perante o espectáculo desse monstro, posso vir a morrer de assombro: há quem morra por menos''.
(Conde de Lautréamont/Isidore Ducasse, ''Os Cantos de Maldoror'', Poesias I&II, Antígona, 2009)
terça-feira, 19 de novembro de 2013
'' Que me importa a vida? ''
'' Breve ou longa, que me importa a vida?
não temos de morrer um dia?
Por muito que se puxe e estenda o fio
não chegará um dia ao seu limite?
Quer vivas infeliz e na miséria
ou mesmo seguro e afortunado,
Tudo se equivale no dia de morrermos.
Quer a sorte nada te tenha oferecido
Quer, deste mundo, mil terras te haja dado,
tanto faz, no dia em que morrermos.
Fortuna e infortúnio: apenas sonho!
e o sonho só vale como sonho,
não há diferença no dia de morrermos.''
Rudaki, Poeta persa(880-940), in '' Irão- viagem ao país das rosas'', Ésquilo, 2007
não temos de morrer um dia?
Por muito que se puxe e estenda o fio
não chegará um dia ao seu limite?
Quer vivas infeliz e na miséria
ou mesmo seguro e afortunado,
Tudo se equivale no dia de morrermos.
Quer a sorte nada te tenha oferecido
Quer, deste mundo, mil terras te haja dado,
tanto faz, no dia em que morrermos.
Fortuna e infortúnio: apenas sonho!
e o sonho só vale como sonho,
não há diferença no dia de morrermos.''
Rudaki, Poeta persa(880-940), in '' Irão- viagem ao país das rosas'', Ésquilo, 2007
domingo, 17 de novembro de 2013
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
sábado, 9 de novembro de 2013
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