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domingo, 15 de dezembro de 2013

Sonhos e inspiração



'' O sonho é tido, já desde a mais remota antiguidade, na conta de uma forma de inspiração. É em sonhos que os deuses falam às vítimas, etc. Convém no entanto observar que os indivíduos que trataram dos seus sonhos, até estes últimos tempos, com incomparáveis cuidados, cuidados esses puros e livres de preocupações literárias ou médicas, o não fizeram com vista a estabelecerem relações com qualquer Além. Podemos dizer que ao sonharem eles se sentiram menos inspirados do que nunca. Narram com fidelidade objectiva tudo quanto se lembram nesses sonhos. Podemos até dizer o seguinte: fora da narrativa de um sonho, em nenhumas outras circunstâncias se consegue alcançar objectividade maior. Isto porque no caso vertente nada se interpõe entre a realidade e o indivíduo que dorme, como acontece no estado de vigília com aquilo a que chamamos censura, razão, etc. Mas imaginem que ao transcreverem uma tal realidade eles exprimem parvoíces dum estilo imperfeito; caso isso suceda, logo se denunciam como gente traiçoeira. Já não descrevem um sonho, fabricam literatura. Cá por mim exijo sempre que os sonhos que me dão a ler sejam escritos em língua escorreita.'' (Louis Aragon, Tratado do Estilo, Antígona, Lisboa, 1995)

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