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terça-feira, 1 de maio de 2012

Decadência e ruína do império Freudiano(excerto)


                                                                Hans J. Eysenck


Hans Jurgen Eysenck, ' Decadência e ruína do império Freudiano' ( Tradução minha a partir do Castelhano)

'' Quando eu era estudante, a vida intelectual europeia e americana estava dominada por três grandes figuras: Einstein na Física; Karl Marx na Economia e Sociologia e Sigmund Freud na Psicologia.
   Dos três, foi Freud quem pior sofreu a prova do tempo. Mais que nociva, a sua doutrina parece hoje desprovida de carácter científico, no sentido de que não permite estabelecer previsões controláveis. Assim o notaram Karl Popper e outros epistemólogos: se determinamos de que modo uma teoria é desmentida pela experiência, quer dizer que, cientificamente, essa teoria não tem nada para dizer. Mas ainda, os métodos de tratamento que Freud retira das suas ideias são hoje considerados como quase ineficazes. Entre os especialistas a sua fama caiu muito, ainda que não se possa contestar como profeta da 'mudança social'.

O Mito da psicanálise

Freud pensou que a psicanálise encontraria uma virulenta resistência na opinião pública, mas assim não foi. A sua doutrina foi aceite com mais facilidade do que nenhuma outra ideia revolucionária, Em psiquiatria o seu método teve, até hoje, uma importância considerável, sobretudo nos Estados Unidos. Deste modo, a psicanálise é o único método de psicologia conhecido por escritores, jornalistas, cineastas, professores, filósofos, e até o homem da rua. Para muita gente, psicanálise é sinónimo de psicologia. Deparamo-nos assim com uma situação curiosa, no sentido de que a psicanálise é plenamente aceite pelos profanos, enquanto que é rejeitada pelos que nesse domínio possuem conhecimentos sérios.

A conclusão de tal estado de coisas é que a psicanálise é um mito, quer dizer, um conjunto de crenças semi--religiosas propagadas por indivíduos que se devem considerar não como investigadores mas como profetas ou iluminados.

Falta de rigor

Freud, por seu lado, estava mais interessado na psicanálise como filosofia geral que pelos seus conhecimentos respeitantes à pessoa e à possibilidade de conhecer o seu «inconsciente«. Dava muita pouca importância aos aspectos curativos da sua doutrina, e no final da sua vida, tornou-se algo céptico em relação às «curas» que obrava. Mas os seus discípulos não estão nessa via: eles persistem em afirmar que a psicanálise é, não só o melhor método de tratamento, mas o único que garante uma cura verdadeira.

Na verdade, a única coisa que costumam fazer os psicanalistas é dar a conhecer exemplos isolados e individuais (obviamente, sempre curas) e depois de utilizarem tais exemplos retiram conclusões de alcance geral. Este procedimento é o exempo clássico do sofisma ' post hoc, ergo propter hoc '. O facto de que um doente chamado John Doe, que sofre uma fobia, comece a sentir melhoria depois de quatro anos de tratamento psicanalítico, não prova de modo nenhum que John Doe deva a sua melhoria à psicanálise e ainda menos que essa fobia se cure com o tratamento dispensado.

Se querem provar a eficácia dos seus métodos, os psicanalistas deveriam ser mais rigorosos, porque se os pacientes tratados por eles não curam mais nem em maior número do que os tratados com outros métodos, os casos de cura não devem considerar-se. Mais ainda, os sujeitos tratados  pela psicanálise, demoram mais do que os ausentes do tratamento. Esta conclusão deduz-se da relação entre curas e sujeitos tratados.

Sessenta anos de atraso

Em 1952 publiquei os resultados das minhas observações: a psicanálise produz a menor cura de pessoas afectadas por neurose. produziu-se um avalancha de réplicas, críticas e rejeições, mas nem uma delas mencionava um caso verificável experimentalmente que demonstrasse o valor do tratamento psicanalítico.

Devemos voltar ao paradoxo invocado no início deste artigo: se os espíritos científicos e familiares com a psicologia rejeitam cada vez mais a teoria de Freud, poque são tão populares? A resposta é simples: Freud é, em si, um escritor e um dramaturgo. A sua doutrina tem o aspecto de um drama moralizante, com os seus heróis, os seus malvados e os seus monstros. Aqui o Ego, o Ele e o SuperEgo; além o censor, disposto a lutar com o inconsciente. Toda a trama, por outro lado, está centrada na sexualidade. Pode haver algo mais atraente? Mas nada tem que ver com a ciência. O próprio Freud disse: eu não sou por natureza cientista.

As teorias de Freud têm a vantagem de que todos podem brincar a psicanalisar os seus amigos. Como a prova cientìfica não intervém para nada, nunca haverá erro. Assim se populariza a psicanálise e nasce o paradoxo. Agora, já podem os sábios franzir o nariz ou os epistemólogos assinalar que as doutrinas de Freud carecem de fundamento, porque como o homem da rua não lê as publicações científicas ou as revistas de filosofia, nada disto surtirá qualquer efeito.

Mas outros métodos de tratamento mais rápidos e eficazes tendem hoje a substituir a psicanálise. A casa que Freud construíra foi demolida; alguns tijolos servirão sem súvida a futuros arquitectos, mas a nova construção não se parecerá em nada à de Freud.

Freud atrasou a psiquiatria mais de sessenta anos, ao não dar a menor importância à prova científica. Abandonando Freud, a psiquiatria poderá ser reconhecida como uma disciplina verdadeiramente científica.''

                                                                         Freud




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