Esparsa ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.
L.V. de Camões
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domingo, 29 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Palavras e silêncio
Palavras e silêncio
Há palavras cortantes e afiadas
Como a lâmina da espada de um samurai
Pesadas como toda a água dos oceanos
Tão leves como as pétalas de uma rosa
Palavras incandescentes,
Autênticas brasas vivas
Que são como fogo, fogo no gelo
Rios de lava penetrante
Há aquelas que dominam
Derrubam, aviltam ou humilham
As que glorificam, enaltecem
Valorizam e vivificam
Outras são desafiantes, obstinadas
Seduzem instantaneamente
E aquelas que são ocas, vazias,
Imersas em discursos opacos
Falsos e programados
Mas palavras há que são digníssimas
Ilustres, poderosíssimas
Sóis de Estio que fecundam
Rapidamente uma estéril planície
Palavras existem que subsistem sem rosto,
Nome ou identidade
Outras são meros rabiscos
Escritos num vulgar papel branco
Há palavras que são murmúrios das águas:
Secretas, enigmáticas, indecifráveis
Não sei se haverá palavras tais
Que traduzam o indizível do silêncio
O impenetrável do silêncio
Que valham mais do que o silêncio
Que substituam o silêncio
Que sejam mais fortes do que o silêncio.
Artur Granja
Há palavras cortantes e afiadas
Como a lâmina da espada de um samurai
Pesadas como toda a água dos oceanos
Tão leves como as pétalas de uma rosa
Palavras incandescentes,
Autênticas brasas vivas
Que são como fogo, fogo no gelo
Rios de lava penetrante
Há aquelas que dominam
Derrubam, aviltam ou humilham
As que glorificam, enaltecem
Valorizam e vivificam
Outras são desafiantes, obstinadas
Seduzem instantaneamente
E aquelas que são ocas, vazias,
Imersas em discursos opacos
Falsos e programados
Mas palavras há que são digníssimas
Ilustres, poderosíssimas
Sóis de Estio que fecundam
Rapidamente uma estéril planície
Palavras existem que subsistem sem rosto,
Nome ou identidade
Outras são meros rabiscos
Escritos num vulgar papel branco
Há palavras que são murmúrios das águas:
Secretas, enigmáticas, indecifráveis
Não sei se haverá palavras tais
Que traduzam o indizível do silêncio
O impenetrável do silêncio
Que valham mais do que o silêncio
Que substituam o silêncio
Que sejam mais fortes do que o silêncio.
Artur Granja
terça-feira, 17 de junho de 2014
Efemeridades
Efemeridades
Ouço essas vozes na praça pública
Glossolalia desordenada e caótica...
De megafone levantado, mentira
E fingimento de mãos dadas
Gritos estridentes abafados
Pelo insano coro das multidões
Anonimato sem destino, efémera fama
Exibida na televisão em horário nobre
Púdicas dores privadas emergem,
Insolente exaltação pública
Que se afunda, inevitavelmente,
Individualidades destruídas
A celebridade ofertada
Em bandeja de fel
Modernidade crudelíssima
Ínfimas e míseras paixões
Aceleradas por necessidades turvas
E inconsequentes,
Travadas a qualquer momento
Sem mérito nem glória
E assim observo estes olhares sem futuro
Rapidamente esquecidos
Por esta putrefacta
Sociedade decadente sublimada!
Artur Granja
Ouço essas vozes na praça pública
Glossolalia desordenada e caótica...
De megafone levantado, mentira
E fingimento de mãos dadas
Gritos estridentes abafados
Pelo insano coro das multidões
Anonimato sem destino, efémera fama
Exibida na televisão em horário nobre
Púdicas dores privadas emergem,
Insolente exaltação pública
Que se afunda, inevitavelmente,
Individualidades destruídas
A celebridade ofertada
Em bandeja de fel
Modernidade crudelíssima
Ínfimas e míseras paixões
Aceleradas por necessidades turvas
E inconsequentes,
Travadas a qualquer momento
Sem mérito nem glória
E assim observo estes olhares sem futuro
Rapidamente esquecidos
Por esta putrefacta
Sociedade decadente sublimada!
Artur Granja
sábado, 7 de junho de 2014
Lugar da memória
Lugar da memória
No velho átrio da nossa mente
Repousam os escombros
De certas memórias
Erguem-se lentamente
São estátuas de mármore
Esculpidas num mar vítreo
Soberanas, primevas e silentes
Latentes, talvez até adormecidas
Despertarão um dia, audaciosas
Lembrando gatos imprevisíveis
Para saltarem sobre nós, múltiplas
Variegadas, martelando incessantemente
Em dias de tormenta ou mesmo
Nos de plena tranquilidade,
Em terra e junto ao mar,
Na vastidão do eu
Elas dormem e mais tarde acordam
Por vezes parecem morrer
Mas sempre ressuscitam.
Artur Granja/N. Afonso
No velho átrio da nossa mente
Repousam os escombros
De certas memórias
Erguem-se lentamente
São estátuas de mármore
Esculpidas num mar vítreo
Soberanas, primevas e silentes
Latentes, talvez até adormecidas
Despertarão um dia, audaciosas
Lembrando gatos imprevisíveis
Para saltarem sobre nós, múltiplas
Variegadas, martelando incessantemente
Em dias de tormenta ou mesmo
Nos de plena tranquilidade,
Em terra e junto ao mar,
Na vastidão do eu
Elas dormem e mais tarde acordam
Por vezes parecem morrer
Mas sempre ressuscitam.
Artur Granja/N. Afonso
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