O Lago
'' Tive eu na mocidade ocasião
De achar do mundo vasto um lugarO qual eu não podia mais amar...
Porquanto me encantou a solidão
Dum lago agreste, por negros rochedos
Circundado, e por altos arvoredos.
Mas quando a Noite o seu sudário
Deitava em seu lugar, e em tudo à volta,
E o vento misterioso andava à solta...
E o vento um canto murmurava...
Ah...era então que eu despertava
Para o terror do lago solitário.
Contudo, tal terror não me assustava,
Mas com tremores me deleitava...
Um sentimento tal cujo mistério
Excede mil jazigos de minério...
E mesmo o teu Amor... que eu cobiçava.
No veneno da onda havia dolo,
E em seu vórtice um esquife apropriado
A quem aí buscava o consolo
De um espírito, erguendo transviado,
Em seu imaginário isolado,
Um Éden no sombrio e torvo lago.''
(Edgar Allan Poe, ''O Lago'', in ''Obra poética completa'', Tinta-da-China, Lisboa, MMIX)
Sem comentários:
Enviar um comentário