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sábado, 21 de setembro de 2013
Desafio
Desafio
'' Tenho uma vaga lembrança
De uma história que se conta
Em certa velha lenda espanhola
Ou numa crónica antiga
Foi quando o bravo rei Sancho
Morreu às portas de Zamora
À qual o seu grande exército montava cerco
Acampado na planície.
Don Diego de Ordenez
Apresentou-se sozinho diante de todos
E gritou bem alto o seu desafio
Aos que defendiam as muralhas da cidade.
A todos os moradores de Zamora,
Aos nascidos e aos que estavam para nascer,
Desafiou como traidores
Em tom desdenhoso e altivo.
Insultou os vivos nas suas casas
E os mortos nas suas campas,
As água dos rios
E o vinho, o azeite e o pão.
Há um exército bem mais poderoso
Que nos assalta de todos os lados
Um exército infindo e faminto
Que luta em todas as portas da vida.
Os milhões que a pobreza oprime
Que vêm disputar o nosso pão e vinho
E nos acusam de traição
Nós, os que estamos vivos, e os mortos também.
E sempre que me sento à mesa do banquete
Onde a festa e as canções não têm fim
No meio da alegria e da música
Ouço os seus gritos terríveis,
Vejo os seus rostos tristes e descarnados
Fitando o salão iluminado
E as mãos exangues e estendidas
Para apanhar as migalhas que caem.
Dentro de casa há luz e abundância,
No ar pairam bons odores,
Mas lá fora, reinam o frio e a noite,
A fome e o desespero.
E no acampamento faminto
Ao vento, ao frio e à chuva,
Cristo, o grande Senhor dos Exércitos,
Jaz morto na planície. ''
H.W. Longfellow
sábado, 7 de setembro de 2013
América
'' A América é a terra da alegria, como a Alemanha é a terra da metafísica e a França a terra da fornicação. Aqui, a bufonaria não conhece descanso. Os Estados Unidos são, incomparavelmente, o maior espectáculo do mundo. Um espectáculo que exclui todo o tipo de palhaçadas que rapidamente me entediam- o cerimonial monárquico, o malabarismo fastidioso da haute politique ou a atitude séria perante a política, por exemplo-, pondo antes a ênfase no tipo de situações que me divertem incessantemente: as discussões brejeiras dos demagogos, as deliciosas e engenhosas manigâncias dos mestres da pulhice, a perseguição a bruxas e hereges, as tentativas desesperadas dos homens inferiores para treparem até ao Céu. Temos entre nós, em constante actividade, bobos que se destacam dos de qualquer outro grande país; não apenas vinte ou trinta, mas verdadeiras manadas deles. Aquilo que noutro país cristão qualquer está irremediavelmente votado a um tédio incurável- coisas que, pela sua natureza, parecem desprovidas de toda a piada-, é aqui elevado a um patamar de bufonaria que nos faz rir a bandeiras despregadas. ''
(H.L.Mencken, ''Os Americanos'', Antígona, 2005)
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