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sábado, 24 de maio de 2014

Antes do fim

Antes do fim

Vede: agora dominam os insurrectos!
Com desmedida empáfia
Escarnecem da vida e da morte
Do alto das suas solenes cátedras
Num ímpeto criador
Eu, como um falcão,
Lanço-me em vôo picado
Sobre os conceitos imutáveis
Que o Tempo ainda não manchou
Olho as cidades em cinza, ideias-brasa
Já antes purificadas pelo fogo
Escuta -este silêncio que te fala-
Penetro na noite como
Um ladrão furtivo
As tuas mãos macias e sedosas
Acariciam os meus cabelos
E dardejantes pedaços de gelo
Desfazem-se de encontro
Aos meus ígneos lábios
Por fim, os caminhantes encontram-se
Naquele ermo lugar
Onde não há mais medo
Temor, ira ou impotência
Aí jazem felizes os ousados
Tranquilamente e sem alarido
Ou qualquer outro resquício
De humanos atributos.

Artur Granja/N. Afonso

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Antonin Artaud



Antonin Artaud

Poeta visonário de olhar penetrante
Génio louco, diriam outros
Uma voz que nos fala
Dos confins do  mundo
Inquietante, perturbador, misterioso.
Pária do surrealismo por mérito próprio
Anarquista por natureza
Tudo isso e muito mais
Sempre lúcido na sua loucura
De asilo em asilo
Rodez já te esqueceu...
Entre os Tarahumaras não te perdeste
Deambulaste furiosamente pela vida,
Ó filho do Mediterrâneo
Fizeste o teu próprio caminho
Remaste sempre contra a maré
Tu, destruidor de ilusões
Persistente iconoclasta 
No palco foste tu próprio
Intenso, verdadeiro, rebelde
Daqui te saúdo, Artaud!
Que caia sobre ti
Um último raio de verdade.

Artur Granja/N. Afonso

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Rosa-símbolo



Rosa-símbolo

Vem
Vem até mim, rosa secreta
Lenta e silenciosamente
Como só tu sabes
Acolhe-me no teu regaço
E murmura o nome dela
Exalas um odor suave e discreto
Tu, símbolo indiscutível do Amor
Outros cantar-te-ão aos ouvidos
Intensas odes e joviais melodias
Não sei o que pretendes de mim
Secreta rosa, brilhante, altaneira
Não te dedicarei odes
Ou outras melodias
Quando sussurrares o nome dela
Então ela estará longe, distante
Mas mais perto do que nunca
Isso mais ninguém sabe, apenas tu
Só tu foste inconcebivelmente 
Criada para guardar segredos
Suprema confidente
Nisso és inigualável
Quer sejas branca, vermelha, amarela
Tu, surpreendente rosa-símbolo!

Artur Granja/N. Afonso

terça-feira, 6 de maio de 2014

Primavera



'' Não são as cores variegadas, os tons graciosos e o ar macio o que tanto nos entusiasma na Primavera. É o tranquilo espírito vaticinador de infinitas esperanças, um pressentimento de muitos dias felizes, da próspera existência de tão diversas naturezas, a suspeita de sublimes florações e frutos eternos e a obscura simpatia para com o mundo social que se desdobra''.

Novalis, in« Fragmentos de Novalis«, tradução de Rui Chafes, Ed.Assírio&Alvim